quinta-feira, outubro 18, 2012


Estabelecimentos Valentim de Carvalho

A ‘Valentim de Carvalho’, com o nome de ‘Salão Neuparth’ e posteriormente como ‘Neuparth & Carneiro’, nasceu na Rua Nova do Almada no dia 14 de Fevereiro de 1824. Fundada por Erdman Neuparth, musicólogo de nacionalidade alemã, começou por vender instrumentos musicais e pautas de música. 
                                                                      Anúncio em 1914
                                  
                                                                 Capa de Pauta de Música
                                         
Em plenos anos 20, o senhor Valentim de Carvalho, que desde 1914 estabelecido na Rua da Assunção - ‘Casa Valentim Carvalho’ - compra a empresa e altera-lhe a designação social para ‘Valentim de Carvalho/Salão Neuparth’. Vendia instrumentos musicais, gramophones e pautas de música.
                                           Valentim de Carvalho, na Rua da Assumpção, em 1921
                                  
                                                                  Capa de Pauta de Música
                                           
Continua a ser conhecida por ambos os nomes ‘Salão Neuparth’ e ‘Casa Valentim de Carvalho’. Promove a empresa numa fase em que se começava a vender os primeiros discos de vinil e consegue a representação de marcas de prestígio internacional – “His Master Voice”, “RCA”, “Deca” e “Columbia”. Nesta altura, os discos eram lidos a 78 rotações por minuto, e produziam-se apenas umas dezenas de cópias sendo a sua gravação directa para o disco.
                                           Eduard Neuparth                                Valentim de Carvalho
                              
A presença na actividade de gravação inicia-se nos anos 30, quando constrói o primeiro estúdio no primeiro andar da histórica loja da Rua Nova do Almada. Desde essa altura, acumulou um valioso acervo musical, o mais importante catálogo discográfico português, que cobre o melhor da música portuguesa. Durante quatro décadas a ‘Valentim de Carvalho’ foi autorizada a distribuir conteúdos da multinacional “EMI” para Portugal.
     Loja na Rua Nova do Almada em 1928: a entrada, e o 2º andar, decorada pelo arquitecto Raul Lino
 
Esta loja, foi mais um grande estabelecimento "devorado" pelo grande incêndio do Chiado de Agosto de 1988. Outras como a Casa Batalha, a loja mais antiga de Lisboa e de Portugal fundada em 1635, Estabelecimento Jerónimo Martins & Filho de 1792,  Antiga Casa José Alexandre de 1833, Eduardo Martins de 1889, Pastelaria Ferrari, Perfumaria da Moda, Casa Custódio Cardoso Pereira (instrumentos musicais), foram igualmente consumidas pelas chamas.
            Aparelhos de som ‘His Master Voice’ e ‘Revox’  comercializados pela Valentim de Carvalho
 
A Valentim iniciou-se nas gravações no primeiro andar da histórica loja da Rua Nova do Almada, numa máquina RCA que gravava directamente para um disco de 78 rotações, que depois tínham que enviar para Inglaterra. Amália Rodrigues, talvez a maior referência do catálogo da Valentim, começou a gravar na Rua Nova do Almada, depois de uma experiência no Brasil, ainda em 78 rotações. O maior drama desse tempo, residia no facto de não ser possível a audição do que se estava a gravar.
Quando as gravações eram directas para o disco, o resultado seguia imediatamente para Inglaterra e as provas demoravam cerca de 15 dias a chegar – mas os discos mesmo demoravam mais tempo. Vinham de barco e às vezes os barcos eram afundados…. , pois estes eram os dias da II Guerra Mundial e o conflito, apesar da neutralidade de Salazar, também afectava o nosso país.
                                                   Em 1950 aparecia o disco em formato  “LP”
                                               
Era imperativo arranjar um espaço com melhores condições e foi aí que nasceu o antepassado directo do Estúdio de Paço de Arcos – o estúdio da Costa do Castelo que funcionava onde hoje se encontra o Teatro Taborda.
Em Janeiro de 1963, a empresa inaugura o novo estúdio de áudio em Paço de Arcos, uma instalação pioneira nesta área, por onde passaram alguns dos maiores nomes da música portuguesa e que significou um investimento invulgar para a época. Abria um dos mais discretos templos da música portuguesa: no estúdio da Valentim de Carvalho de Paço de Arcos registaram-se algumas das maiores obras de produção nacional.
                        Estúdios de Paço d’Arcos                                                       Carro de distribuição
  
O projecto do edifício do estúdio da Valentim de Carvalho foi concebido, ainda nos anos 50, pelo arquitecto Calvet de Magalhães.
O estúdio ficou pronto em 1960, mas só em 1963 começou a laborar normalmente, depois de um longo processo de testes acústicos e de equipamento, liderado por engenheiros dos famosos estúdios londrinos “Abbey Road”. O estúdio da Valentim era aliás uma réplica de uma das salas de Abbey Road – facto que deve ter contribuído para o prestígio que conquistou e que atraiu a Portugal nomes como António Machin (de Cuba), Joan Manuel Serrat e Julio Iglesias – que gravou cá logo após ter abandonado o futebol, Cliff Richard e os Shadows ou Vinicius de Moraes e Sivuca , entre muitos outros.
  
Por esta altura, as principais áreas de negócio da empresa eram: venda e distribuição discográfica, edição, comercialização de instrumentos musicais, estúdios de som. Esta década foi revolucionária em termos musicais e a edição de música conheceu um boom. O catálogo nacional cresce exponencialmente e abrange artistas tão díspares como Lopes Graça, António Calvário e Amália Rodrigues.
  
Nos anos 70 do século XX, a Valentim de Carvalho já era representante de prestigiadas marcas de alta-fidelidade, como: “Thorens”, “Revox”, “JBLansig” ,”Shure”, “Nakamichi”, “Quad” etc …
  
  
fotos in: Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital
No final da década de 80, vivia-se uma época de crise, consequência da desactivação da área fabril e do desaparecimento do espaço âncora do Chiado. O negócio viveu, nessa altura, sobretudo da venda de instrumentos musicais e da joint venture com a “EMI”.
A “EMI” decide instalar-se em no nosso país e cria em conjunto com a Valentim a editora “EMI - Valentim de Carvalho”, que conjugaria a importação dos discos da EMI com a gravação de artistas nacionais numa só empresa área de retalho, elegida como estratégica para o grupo, torna-se numa das apostas fundamentais ao desenvolvimento da empresa, abrindo mais de 20 lojas entre 89 e 99. Da magra quota de 1 que detinha no inicio deste período, a ‘Valentim de Carvalho’ passa para a liderança do mercado discográfico.
Em 1990 foi criado o primeiro estúdio de televisão, com 180 m²; paralelamente construiu-se o novo estúdio de som com base em tecnologia de última geração. E em 1991 foi criada uma nova empresa, os ‘Estúdios Valentim de Carvalho - Gravações & Audiovisuais SA.’, com sede em Paço de Arcos.
Em 1995 e 1996 as áreas de estúdio de vídeo e áudio foram ampliadas e foi feito novo investimento nos mais modernos sistemas incluindo um carro de exteriores.
                                                       Publicidade dos anos 30 e 40 do século XX
  
Em Junho de 1999 foi inaugurado o Estúdio 3, o maior estúdio de televisão do País, passando assim a Valentim de Carvalho a deter o principal parque de produção vídeo no mercado português.
Em Abril de 2010 foi decretada a falência da “Valentim de Carvalho


2 comentários:

Anónimo disse...
Será que no Espólio da Valentim de Carvalho,exis_
te algo da SrªD.Beatriz de Sousa Santos,Que por
ventura possa ter gravado?.Eu modesto rapazinho de dez anos,a residir na outra banda,gostava
tanto de a ouvir tocar piano,nas tardes da sau_
dosa Emissora Nacional.Esta Senhora, no estran_
geiro,teria alcançado grande fama e gravado mui_
tos discos,que agora com as modernas tecnologias
teriamos possibilidades de a voltar a ouvir.Nos
meus modestos conhecimentos e pela sua forma como
tocava,parecia o Carmen Cavallaro,este ainda al_
cançou nome.A D. Beatriz,morreu pobre e esqueci_
da e provavelmente sem nada gravado,que bem que
ela tocava,é uma grande perda.
Carlos Nabeiro.

Anónimo disse...
Há duas canções que gostaria de encontar e infelizmente que por mais que procure não não consigo, porque não recordo o titulo, nem quem as cantava, uma sei a musica e parte da letra:
A rua presa ao seu destino
Onde aquele menino
Que ele já foi morou,
Supõe que já conhece a vida
Apenas sabe duvidar
Não vendo que alcançou
A força que o esmagou
A cruz que o há-de torturar!

A outra que o meu neto João trouxe à minha memória:
João tu és aldrabão
Dizes que não casarás comigo
Se um dia rojares a asa
Para ficares cá em casa
Não caso contigo.
Será que ainda recordam estas canções, gostaria das conseguir.