sexta-feira, julho 20, 2012

Recepção do Navio Escola Sagres em Jakarta 2010

O Navio-Escola Sagres, que partiu no dia 19 de Janeiro de Lisboa para a sua terceira Volta ao Mundo, chegou a Jakarta no passado dia 26 de Setembro, proveniente de Dili, Timor-Leste. No porto de Tanjung Priok, permaneceu durante 4 dias, partindo de seguida com destino a Banguecoque, na “recta final” desta longa viagem que terminará em Lisboa no próximo dia 23 de Dezembro, 11 meses após o seu começo.
Esta viagem tem como destinos: o Brasil, o Uruguai, a Argentina, o Chile, o Peru, o Equador, o México, os EUA, o Japão, a China (incluindo Macau), a Coreia do Sul, a Indonésia, Timor-Leste, Singapura, a Tailândia, a Malásia, a União Indiana, o Egipto e a Argélia. Esta é a terceira vez que a Sagres realiza uma Circum-navegação, tendo as últimas viagens ocorrido em 1978/ 79 e em 1983/84. Esta visita à Indonésia reside no âmbito da comemoração dos 500 anos desde o registo dos primeiros contactos de portugueses na Indonésia. Com efeito, teremos que recuar até ao século XV, quando os portugueses foram os primeiros europeus a chegar à Indonésia, nomeadamente Sumatra e posteriormente a ilha das Molucas.
A missão fundamental do N.R.P. “SAGRES” tem consistido em possibilitar um amplo e profundo contacto com a vida do mar às sucessivas gerações de oficiais da Armada, através das viagens de instrução nele efectuadas. Para além das viagens de instrução, o N.R.P. “Sagres” tem igualmente como missão principal a representação da Marinha e do País, visitando com frequência portos estrangeiros, surgindo essas deslocações quer na sequência das viagens de instrução já anteriormente referidas; de comemorações de grande envergadura; e de apoio directo à acção diplomática dos órgãos de soberania, aquando das visitas oficiais de altas entidades do Estado. Durante a sua estadia, amplamente divulgada pela Imprensa local, merecendo honras de primeira página em diversos jornais e directos televisivos, foram efectuadas diversas cerimónias entre as marinhas dos dois países, bem como também uma recepção a bordo para a comunidade portuguesa existente no país, convidados VIP, Diplomatas e imprensa local escrita e falada, onde se repetiu a acção de divulgação do vinho português através da marca  ”Borges”, pela acção do seu representante Ricasia Ltd, para o mercado da Indonésia. O Embaixador de Portugal na Indonésia, Carlos Frota destacou como principal foco desta viagem a mensagem de amizade que a mesma traz: “ Esta visita visou não apenas a celebração dos primeiros contactos entre os dois países, mas igualmente aproximar e intensificar as relações marítimas. Para além da nostalgia, devemos ter uma visão de cooperações futuras”.
O Navio-Escola Sagres, que partiu no dia 19 de Janeiro de Lisboa para a sua terceira Volta ao Mundo, chegou a Jakarta no passado dia 26 de Setembro,proveniente de Dili, Timor-Leste. No porto de Tanjung Priok, permaneceu durante 4 dias, partindo de seguida com destino a Banguecoque, na “rectafinal” desta longa viagem que terminará em Lisboa no próximo dia 23 de Dezembro, 11 meses após o seu começo.
Esta viagem tem como destinos: o Brasil, o Uruguai, a Argentina, o Chile, o Peru, o Equador, o México, os EUA, o Japão, a China (incluindo Macau), a Coreia do Sul, a Indonésia, Timor-Leste, Singapura, a Tailândia, a Malásia, aUnião Indiana, o Egipto e a Argélia.Esta é a terceira vez que a Sagres realiza uma Circum-navegação, tendo as últimas viagens ocorrido em 1978/ 79 e em 1983/84.Esta visita à Indonésia reside no âmbito da comemoração dos 500 anos desde o registo dos primeiros contactos de portugueses na Indonésia. Com efeito, teremos que recuar até ao século XV, quando os portugueses foram os primeiros europeus a chegar à Indonésia, nomeadamente Sumatra e posteriormente a ilha das Molucas. A missão fundamental do N.R.P. “SAGRES” tem consistido em possibilitar um amplo e profundo contacto com a vida do mar às sucessivas gerações de oficiais da Armada, através das viagens de instrução nele efectuadas. Para além das viagens de instrução, o N.R.P. “Sagres” tem igualmente como missão principal a representação da Marinha e do País, visitando com frequência portos estrangeiros, surgindo essas deslocações quer na sequência das viagens de instrução já anteriormente referidas; de comemorações de grande envergadura; e de apoio directo à acção diplomática dos órgãos de soberania, aquando das visitas oficiais de altas entidades do Estado.
Durante a sua estadia, amplamente divulgada pela Imprensa local, merecendo honras de primeira página nos principais jornais e mesmo directos televisivos a bordo do navio, foram efectuadas diversas cerimónias entre as marinhas dos dois países, bem como uma recepção na residência do senhor Embaixador  para a comunidade portuguesa existente no país, onde se realizou uma acção de divulgação do vinho português da marca “Borges” que através da acção do seu representante no mercado a empresa Ricasia Ltd, que constitui já a marca Borges, a maior exportadora de vinhos nacionais para a Indonésia. O Embaixador de Portugal na Indonésia, Carlos Frota destacou como principal foco desta viagem a mensagem de amizade que a mesma traz: “Esta visita visou não apenas a celebração dos primeiros contactos entre os dois países, mas igualmente aproximar e intensificar as relações marítimas.Para além da nostalgia, devemos ter uma visão de cooperações futuras”.

29NOV2010 - 314º Dia - Navegando no Mar Vermelho!

29NOV2010 314º Dia - Navegando no Mar Vermelho! Os relatos de ataques consumados e tentativas falhadas chegavam aos quatro e cinco por dia. A maioria no Índico, na zona de acesso ao Golfo de Aden. As melhores condições meteorológicas que se fazem sentir com o final da monção de sudoeste permitem aos piratas alargar a sua área de acção para fora do muito vigiado Golfo de Aden. Os navios mais lentos e com a borda mais baixa são os mais vulneráveis, precisamente o nosso caso. Navegámos a motor e velas fazendo a máxima velocidade possível e reforçámos a vigilância. Uma primeira reacção rápida e enérgica da equipa de segurança poderá ser desmotivadora dos que se tentassem aproximar com más intenções, mostrando-lhes que somos um navio militar preparado para lhes dificultar a tarefa. Por outro lado forçávamos o afastamento de qualquer contacto radar e evitávamos aproximar das posições correspondentes aos ataques reportados. E assim chegámos, sem qualquer susto à entrada do corredor recomendado para a travessia do Golfo de Aden, com a Somália a sul e o Iémen a norte. Aqui o policiamento é mais efectivo, com vários navios de guerra da EU, da NATO e de vários países asiáticos distribuídos ao longo das cerca de 500 milhas do percurso. Foi no dia 21, com mar calmo e lua cheia - boas condições para os piratas mas também para uma detecção atempada no radar ou com os sistemas de visão nocturna. Os nossos aliados estavam informados da nossa passagem e fomos tratados com uma atenção especial. O primeiro contacto com as forças que patrulham esta área foi o sobrevoo por um caça francês que fez algumas passagens por nós abanando as asas em sinal de saudação. Algumas centenas de metros pelo nosso bombordo acompanhavam-nos várias baleias que apenas mostravam o repuxo que saía do seu dorso. Na manhã de dia 22 recebemos a visita de uma fragata francesa. À tarde foi uma fragata tailandesa que se manteve pelo nosso través de bombordo durante várias horas enquanto atravessávamos a sua área de patrulha. Conversámos via rádio, falámos das nossas missões e desejámos boa continuação a ambos. Cerca de 5 milhas no nosso estibordo, passava um comboio com 32 navios mercantes, tal como o rebanho ou a manada que se tenta proteger do predador, dispostos numa formação muito apertada e espaçados de menos de uma milha entre eles, vão sendo escoltados por algumas unidades navais. Tantos navios e tão juntos é um risco que só vale a pena correr para evitar um perigo maior que é o ataque dos piratas. Há mesmo muitos receios e cautelas por estes lados. À tarde cruzámo-nos com um comboio com 12 navios em rumo contrário. Nessa noite fomos informados por uma fragata italiana de que tinha sido detectado um skiff suspeito a uma distância razoável de nós mas navegando na nossa direcção. Redobrámos as atenções na alheta de bombordo mas não tivemos novidades. No dia 23, após o almoço, avistámos uma embarcação suspeita que se aproximava de nós mas que vinha a sofrer com a ondulação que se fazia sentir e que lhe limitava a velocidade. Manobrámos para manter uma distância segura. Contudo, ainda pudemos identificar dois e várias escadas e skiffs no seu convés. As escadas são a ferramenta que utilizam para a abordagem aos navios mais altos e são o que diferencia as embarcações dos piratas das de pesca. Desta vez reportámos nós aos navios na zona a presença da embarcação mãe suspeita. A atenção especial de que fomos alvo não é alheia ao facto de durante o ano de 2009 cá terem andado também as nossas fragatas. O grupo de navios da NATO aqui presente foi inclusivamente comandado por um almirante português embarcado, à vez, nas Fragatas "Álvares Cabral" e "Côrte Real". É esse o espírito da aliança: dar para receber! Em breve cá estará outro navio nosso para assegurar esta importante rota marítima para que os bens que consumimos provenientes destas bandas possam continuar a chegar até nós a custos aceitáveis. Finda a travessia do corredor protegido fizemo-nos ao Estreito de Bab el Mandeb e entrámos no Mar Vermelho passando à vista do Djibuti a bombordo e do Iémen a estibordo. Foi no dia 24 de manhã. Já vínhamos a navegar à vela com um forte vento de SSE que se manteve até agora e nos permitiu desfrutar de alguns dias seguidos de vela. Este sábado fizemos duas sessões de fotografia exterior da barca. Primeiro de manhã, com um bom vento e um mar agitado e depois à tarde com um vento muito fraco mas com a luz óptima do pôr-do-sol. Colocámos a semi-rígida na água com o nosso marinheiro fotógrafo Luis Lopes, o nosso sargento realizador de belos resumos de vídeo, Francisco Coelho, e os nossos dois convidados, o fotografo Guta de Carvalho, autor das fotos que acompanham esta crónica, e o escritor Joaquim Magalhães de Castro que também faz documentários, crónicas e reportagens. O vento aqui no Mar Vermelho tem sido forte durante o dia, caindo muito ao anoitecer. Como o mar tem estado mais agitado do que o esperado, temos optado por navegar a motor à noite passando à vela ao amanhecer quando o vento cresce e abre para leste. Temos vindo a ajustar a hora de bordo para manter o sol a nascer entre as 7 e as 8 da manhã pelo que navegamos agora com apenas 4 horas de diferença para Lisboa. Como estamos para leste, o sol passa por nós bem mais cedo do que em Portugal. A lua esteve cheia no dia 21. Era como se rendesse o sol pois quando este se pôs, a oeste, estava a lua a nascer a leste. Todos os dias foi nascendo cerca de 50 minutos mais tarde até que ontem, no quarto minguante, nasceu cerca da meia-noite. As noites têm sido limpas devido ao clima seco destas paragens, o que nos proporciona céus estrelados dignos de um autêntico planetário. Com o planeta Júpiter bem visível no través de bombordo, a estrela Sírius à popa, e as constelações da Cassiopeia, Ursas, Gémeos, etc., entretivemo-nos após o jantar a identificar estrelas deste céu de inverno bem mais a sul que o nosso. Levantámo-nos cedo na madrugada de sábado para um último olhar sobre o Cruzeiro do Sul que iria deixar de ser visível por nos estarmos a afastar para norte. Lá estava ele, muito baixo, num céu que estava abrilhantado com Vénus e Saturno sobre a constelação da Virgem. O Cruzeiro do Sul é uma constelação em forma de cruz com uma estrela em cada ponta em que a Acrux, a estrela do pé da cruz, aponta na direcção do pólo sul. Assim, quando a cruz está na vertical, significa que está sobre o meridiano do lugar. Esta foi a grande ajuda dos nossos navegadores na determinação da latitude e na indicação da direcção quando, ao passar para sul do Equador, se perdia a estrela Polar. Os países foram-se sucedendo. A bombordo, a Eritreia, o Sudão e agora o Egipto. A estibordo, sempre a Arábia Saudita. No mar cruzávamo-nos ou éramos passados por enormes navios, entre eles os maiores porta-contentores do mundo com 330 metros de comprimento e 40 de boca. Repletos de contentores, são um verdadeiro desafio das leis da física! Passaram também dois mega iates escoltados por um patrulha. Ontem, pouco antes do almoço, passou por nós o navio de cruzeiros "Athena", que tem tripulação portuguesa e faz base em Lisboa. Falámos com o comandante, oficial da Marinha Mercante que ainda andou connosco na Escola Naval e que nos cumprimentou desejando boa viajem até "casa". Eles iam a caminho da Austrália onde fazem a época do inverno do hemisfério norte. Um Cozido à Portuguesa, um Polvo à Lagareiro, as Sardinhas que a minha mulher congelou este verão, os Caracóis que estão no congelador, Castanhas, etc. Esta é uma parte das listas de desejos que se vão formulando para a chegada a Lisboa. As conversas já rodam praticamente em volta do que queremos fazer quando completarmos esta viagem. Há quem já esteja em estado de ansiedade e durma mal. Falta menos de 4 semanas, um nada comparando com as 45 que já passaram, é a relatividade do tempo. Por agora concentramo-nos nas últimas intervenções nas madeiras, na confecção de novos lanudos (protegem as velas do roçar nos brandais e estais), nos relatórios da viagem e do final do ano, e na preparação da passagem no Canal do Suez. Recordamos as histórias contadas por camaradas que fizeram recentemente esta travessia, estamos com alguma apreensão relativamente à atitude por vezes arrogante e da pequena chantagem dos pilotos egípcios, comportam-se como uma espécie de "porteiros" de um canal que liga dois mares, o qual é vital para a economia do seu país e do Mundo. Depois contaremos!

quarta-feira, julho 18, 2012

18NOV2010 - 303º Dia - Goa agridoce!

A entrada no porto de Mormugão era muito simples e bastavam-nos cerca de 30 minutos de navegação no canal para chegar ao nosso cais. O piloto estava marcado para as 08:15 mas a nossa entrada foi sendo sucessivamente adiada, pois o cais estava ocupado por um outro navio. Mantivemo-nos a pairar no meio dos inúmeros navios fundeados no exterior e atracámos cerca das 10:00, com uma hora de atraso. Aguardava-nos o Cônsul-Geral de Portugal, Dr. António Sabido Costa, alguns oficiais da Marinha Indiana, os nossos agentes e cerca de 20 jornalistas.
Recebemos o Cônsul e os Oficiais enquanto era feita uma apresentação sobre o navio e a viagem aos jornalistas. Sabíamos da coincidência de estarmos a menos de duas semanas dos 500 anos da tomada de Goa por Afonso de Albuquerque e que isso poderia ser um assunto sensível, mas também sabíamos que Goa tinha sido invadida em 1472 pelos muçulmanos e que foi ao Sultão de Bijapur que, com a ajuda dos hindus de Cochim e dos Brâmanes de Goa, Afonso de Albuquerque tomou a região pela força das armas. Assim, realçámos o papel da Sagres como navio-escola e como representação de Portugal utilizada em missões de boa vontade para o reforço dos laços de amizade com os países visitados. Não houve perguntas, apenas um pedido de depoimento do comandante. Entretanto, quando íamos a sair para a visita de cumprimentos ao Contra-almirante Comandante da Região Aero-Naval de Goa, fomos interpelados por um jornalista que nos informou acerca de um grupo de "Freedom Fighthers" e um partido politico que se manifestavam contra a presença do navio, pois encaravam a nossa visita como uma forma de comemorar a invasão de Goa. Respondemos que não nos imiscuíamos em temas de política e que as instruções que tínhamos eram para uma visita cordial e amiga. À saída das instalações portuárias, verificámos que existia um grande aparato de segurança que, aliás, se manteve ao longo da nossa estadia. O almirante estava visivelmente preocupado com o motivo da nossa visita, e só descansou quando percebeu que o navio anda há 10 meses no mar participando em várias celebrações e que esta missão não é dedicada a Goa. É que os jornais do dia traziam três artigos dedicados a uma conferência de imprensa de um partido nacionalista da oposição que estava contra a visita da Sagres e exigia que o Governador e o Chief Minister cancelassem as suas presenças nos eventos a bordo. Nos dias anteriores já tinham saído algumas noticias a anunciar a nossa visita e os eventos a bordo e estas notícias vieram em consequência das primeiras. Dissemos ao almirante que tudo isto era uma experiência nova para nós, pois normalmente somos sempre muito bem recebidos. Ele aconselhou-nos a desvalorizar o assunto, no fundo, fruto da democracia e da liberdade de expressão na Índia. Disse-nos ainda que se tratava de um grupo muito pequeno de manifestantes pacíficos e que iríamos ser muito acarinhados em Goa. Entretanto, falámos das nossas Marinhas, da Sagres e da nossa viagem, enquanto ele nos servia um chá e nos perguntava se estávamos habituados. Respondemos que sim, que o chá foi introduzido em Portugal, precisamente através dos primeiros contactos com o oriente, e que foi uma Rainha portuguesa que o levou para a Inglaterra. Ele sabia disso, pois a princesa Catarina de Bragança, filha de D. João IV, casou com Carlos II de Inglaterra e levou de dote as possessões de Bombaim e Tanger. Foi ela que introduziu o "chá das cinco" que se tornou moda naquele país e passando a ser considerada uma inglesa. O almirante confirmou a sua presença no nosso almoço e recepção e fez um convite a todos os nossos oficiais para uma recepção na noite do dia 15. Ao regressar a bordo, passámos por um grupo de cerca de 20 manifestantes com um cartaz onde se afirmava que receber o NRP "Sagres" era uma desgraça para Goa. Foi tudo o que vimos de contestação, embora o assunto tivesse continuado a sair nos jornais.... O nosso cônsul também nos disse para desvalorizar aquele incidente. A nossa visita estava a ser utilizada nas quezílias partidárias. Nessa tarde fomos participar, como convidados de honra, numa sessão solene de abertura de uma exposição sobre Fernão Mendes Pinto numa escola de artes e ciência onde se ensina o português. Foi em Margão, numa escola de maioria hindu, onde fomos muito bem recebidos. Havia muito interesse na Sagres e o nosso discurso foi muito aplaudido. Seguiram-se, inclusivamente, muitos pedidos para fotos que foram uma constante ao longo da nossa estadia. Seguimos directamente para um hotel de Vasco da Gama onde a Sociedade de Amizade Indo-Portuguesa nos ofereceu uma recepção. Entre os presentes, fomos apresentados ao vice-presidente do BJP, precisamente o partido que organizara a manifestação contra a nossa presença. Ele, em bom português, disse-nos que tudo aquilo não passava de política e que nada tinha contra nós. Foi até muito amistoso. No nosso discurso, agradecemos as manifestações de amizade a Portugal e apreço pela visita da Sagres que recebemos naquela noite, pois estas eram importantes para nós como contraponto à campanha do BJP. Na realidade, as pessoas sentiam-se na obrigação de pedir desculpas pela manifestação e tentavam compensar-nos ainda com mais carinho e amizade. O segundo dia foi propositadamente reservado para as visitas a bordo e livre de actividades protocolares, para descanso do pessoal. Apesar de todas as medidas de segurança, recebemos a bordo cerca de 2300 visitas que tiveram que esperar longo tempo na entrada do porto para identificação e depois transporte até ao navio. Vieram grupos de bicicleta vestidos a rigor com camisolas com a Sagres desenhada, grupos de escolas, e muitos cidadãos anónimos. Os jornais do dia tinham agora vários artigos de opinião, uns a favor da vinda a bordo das autoridades locais e outros contra. Alguns aceitavam as manifestações hostis, pelo facto de no passado se terem cometido excessos e se ter sujeitado o povo de Goa à Inquisição e à conversão forçada. Outros, por sua vez, realçaram que foi graças aos 450 anos de presença portuguesa que Goa conseguiu uma identidade e cultura únicas, que ainda hoje se distinguem do resto da Índia. Que os goeses são mais disciplinados, honestos e avançados. Que se não fossem os portugueses não havia um estado de Goa e que esta estaria integrada num dos estados vizinhos. Outro dizia que é injusto estar a tratar este assunto como se se estivesse a lidar com o Portugal anterior a 1961 e não com o Portugal democrático e moderno de hoje com quem a Índia tem muito boas relações diplomáticas. Outro dizia ainda que, quer se queira ou não, Goa continua a tirar dividendos dos 450 anos de colonização portuguesa. Que a síntese das culturas de Portugal e Goa e as muitas Igrejas, Templos, casas e edifícios governamentais são uma herança que faz agora parte da diversidade cultural da Índia e que tal não se pode escamotear. Um último comentador dizia que graças à herança portuguesa, Goa é um forte destino turístico. Muitos indianos fazem férias em Goa porque "é como ir à Europa sem pagar tanto". Há no entanto muito que preservar, e por outro lado, a contrastar com os edifícios e monumentos de traça portuguesa estão as construções em betão, sem gosto, sem critério e com um mau impacto visual. É uma consequência negativa do facto de Goa ser dos estados mais ricos da Índia, com um nível de vida duas vezes superior à média do país. Por isso, está sujeita a grande pressão, recebendo muitos migrantes internos que, segundo nos disseram, tornam as zonas urbanas mais sujas, degradas e com o trânsito muito mais caótico. Entretanto, chegou o Domingo, o dia marcado para o almoço e recepção para os quais estava convidada a elite de Goa. O Governador convidou-nos para uma visita matinal ao Palácio do Cabo, porque afinal não poderia participar no nosso almoço por ter de se deslocar a Nova Deli. Fomos juntamente com o Embaixador Luís Filipe de Castro Mendes que tinha chegado na véspera para acompanhar a visita da Sagres e para se despedir de Goa por ir em breve ocupar o lugar de Embaixador de Portugal na UNESCO. O Governador foi muito simpático e revelou conhecer bem a história da Sagres e a viagem. Elogiou a guarnição pela beleza da barca e justificou a sua ausência ao almoço lamentando não poder estar presente. Proporcionou ainda uma agradável visita ao palácio que foi do Governador de Portugal e que ainda revela a presença portuguesa em vários pormenores. Actualmente conhecido por "Cabo Raj Bhavan", o palácio é considerado a mais fina e mais antiga residência de governadores da Índia. Ao almoço compareceu apenas o Almirante Sudhir Pillai com quem mantivemos uma conversa muito aberta e agradável. Lamentou o mau aproveitamento político da nossa visita e realçou a cooperação entre a nossa Marinha e a Indiana no combate à pirataria do Corno de África. Falou-nos do Instituto Hidrográfico Indiano que se situa em Goa e que está a estudar a cartografia antiga da região baseada nos trabalhos dos portugueses que tem revelado muito rigor. Findo o almoço, caiu sobre nós uma verdadeira tempestade! Um aguaceiro fortíssimo e vento com rajadas de 35 nós. Terminou mesmo a tempo de substituir toalhas nas mesas instaladas no tombadilho para recebermos um grupo de cerca de 80 pessoas composto pelos melhores alunos de português de Goa, seus pais e professores. Aqui realizámos a cerimónia de entrega de prémios escolares, organizada pela Fundação Oriente, pela Associação de Professores de Português e pelo Instituto Camões. Distribuíram-se os prémios após alguns discursos encorajadores e servimos um lanche. Esta cerimónia, que também contou com a presença do casal Embaixador de Portugal e do Cônsul-Geral perdurará na memória dos jovens premiados e respectivas famílias. Às 19:30 começámos a receber os 230 convidados para a nossa recepção. Esteve presente toda a elite de Goa, incluindo deputados dos vários partidos, juízes, presidentes de câmara, militares, etc. Só não vieram os membros do Governo para não alimentar a polémica já levantada. Estava inclusivamente presente o Vice-presidente do BJP, com a sua família e muito feliz por estar na Sagres. Sobre a manifestação, disse que nada daquilo era contra nós e que apenas queriam embaraçar o Governo do Estado. E conseguiram! A recepção começou com a actuação de uma jovem cantora local, a Sónia Sirshat, que nos encantou com fados e mandós, a canção tradicional de Goa. Lembrem-se deste nome porque estamos certos de que chegará aos ouvidos de Portugal. As pessoas foram super simpáticas e revelaram um gosto enorme em estar a bordo. Faziam exclamações perante cada acepipe nosso! Estavam a matar saudades da portugalidade! E empenharam-se em desvalorizar as manifestações contra a nossa presença tentando compensar-nos com atenções e carinho. No dia seguinte, segunda-feira e último dia de porto, abastecemos quase 10 toneladas de mantimentos, atestamos tanques de combustível e água e tivemos ainda que deslocar o navio no cais para dar espaço para a atracação de um cargueiro. Foi uma jornada até às 16:00, muito dura para a véspera de uma navegação de três semanas até Alexandria via Canal do Suez. Este foi também o dia em que jogámos futebol contra os alunos de português, vencendo por 3-0 a "Taça da Lusofonia". Apesar de em Goa o futebol ser muito apreciado, contrariamente ao resto da Índia, a Marinha local desafiou-nos para um jogo de voleibol que perdemos por 3-1. Apesar da distância é barato alugar um táxi ou um carro com condutor para todo o dia e percorrer o Museus e Igrejas da Cidade Velha de Goa e de Pangim, o Bairro das Fontainhas em Panjim, o Forte da Aguada, o Forte Chapora, a Casa da família Menezes Braganza em Chandor, os templos hindus de Shri Mangesh, Mahalsa e Ganesh, na zona de Ponda, a Quinta das Especiarias Sahakari em Curti, etc. A Sé Catedral, a Igreja de S. Francisco de Assis, a de São Caetano, a Basílica do Bom Jesus (onde estão as relíquias de São Francisco Xavier), são dignas de uma visita pela sua dimensão e pela riqueza do seu património. Aliás, é graças a estes edifícios que Goa é Património Mundial desde 1986. As viagens de carro foram uma constante aventura com ultrapassagens à justa e nas zonas mais desapropriadas, tangentes a tudo e todos, transgressões, etc. Mas no último instante todos se entre ajudam e não se vêem acidentes. Há vacas por todo o lado e é muito normal o trânsito de uma via rápida ou dentro da cidade parar para deixar passar uma vaca ou bufalo ou mesmo esperar que eles se decidam sair da via. Até na praia há vacas! Estas comem ervas, lixo e tudo o que lhes aparece à frente. Têm um aspecto doentio e parecem cães vadios. Goa é também famosa pelas suas praias. Visitámos as praias de Calangute, Baga, Anjuna, Ozran e Vagator. Tomámos uma cerveja Kingfisher ao pôr-do-sol na famosa praia de Calangute e outra na de Candolim, onde está encalhado um enorme navio chamado Sea Princess. A cozinha goesa resulta da fusão entre a cozinha portuguesa e a indiana. É picante e saborosa. O "cabidel", a "fejuade", o "calde verde" são algumas das especialidades. Goa é das raras regiões da Índia onde se pode comer carne de vaca. Do mar provámos os camarões, lagostins, caranguejos e peixes grelhados. Nas sobremesas, era sempre a bebinca, um bolo tradicional feito às camadas e ao longo de várias horas.
Ao longo da estadia fomos recebendo lembranças dos nossos amigos de Goa. Livros, fruta, artesanato, cartas, versos, etc. Muitos elementos da guarnição foram guiados pela região a convite dos nossos anfitriões. Chegou o dia da largada e, quando estávamos a preparar o navio, surgem de surpresa dezenas de embarcações todas engalanadas com balões verdes e vermelhos, com bandeiras de Portugal e da Índia, com muitas famílias, todos vestidos com a camisola da nossa selecção, com cartazes que diziam "Adeus Sagres - Viva Portugal - Goans Love You - Long Live India-Portugal" e com muita música. Muitos chamavam a nossa atenção e beijavam o escudo português no peito da camisola. Uma orquestra tocava numa embarcação versões goesas de várias canções tradicionais portuguesas. A guarnição correu à borda e deliciou-se com aqueles amantes de Portugal, aplaudindo-os e oferecendo-lhes lembranças ou apenas um sorriso e um obrigado. Encaramos este gesto de gente de mar para connosco também com um tributo aos marinheiros que vieram fazer uso do Mar para uma região em que o hinduísmo o desencorajava, os hindus nem sequer se alimentavam no mar. Eram os árabes anteriormente aos portugueses a fazer uso dele. A própria Marinha Indiana, sofreu um grande revés com a separação do Paquistão, nessa altura a grande Maioria do seu pessoal era muçulmano e optou por aquele país. Esta era a resposta aos poucos que, instrumentalizados, protestaram sobre a nossa vinda a Goa nesta altura e que vieram comer à nossa recepção e visitar o nosso navio como se nada se passasse. Esta era a resposta que nós estávamos admirados por não acontecer numa terra onde 5% da população fala português e onde há 60 000 passaportes portugueses (aqui não é permitida a dupla nacionalidade). Estávamos em crer que estes passaportes todos não passavam de um oportunismo para aceder à Europa mas afinal ainda há muita portugalidade em Goa.
Obrigado doce Goa! "Dev Borem Korun" (Deus abençoe, em konkani).
Não poderíamos ter passado aqui perto sem parar para estar um pouco com esta gente mas temos que lhes dar a conhecer o novo Portugal, democrático, amigo do ambiente, participativo na comunidade internacional, com investigação avançada em várias áreas, etc. Façamos com que quem vê Goa tenha vontade de ir a Lisboa, e são mais de um milhão por ano! Navegamos agora à vela e motor, a dar o nosso máximo a caminho do Corno de África. O vento já está de nordeste. A monção já virou e é um desperdício não estar a navegar só à vela mas a ameaça de pirataria é real e não podemos ir lentos e com a manobra limitada pelas velas. Seguimos os conselhos das forças navais da Europa e da NATO que estão envolvidas nas operações Atalanta e Ocean Shield e que acompanham os nossos movimentos e dos milhares de navios que se fazem ao Suez. Vamos com máximas cautelas mas a vida de bordo continua a desenrolar-se normalmente. Estamos de volta aos treinos de combate a incêndio e aos treinos de reacção a tentativa de abordagem e iniciámos ontem o Campeonato de Futeconvés do Índico onde pela primeira vez não há uma equipa de oficiais por falta de quórum devido lesões. O ambiente está bom e foi agora reforçado com a notícia da vitória por 4-0 sobre a Espanha. Temos também connosco dois convidados especiais: o fotógrafo Guta de Carvalho que já navegou na barca algumas vezes e está a ultimar um livro onde junta as fotos captadas ao longo dos últimos 20 anos com poesia portuguesa. Em Goa, veio também recolher imagens actuais para um livro onde estas contrastarão com as recolhidas por Augusto Cabrita em 1960. O escritor Joaquim Magalhães Castro, autor de livros de viagens e investigador da história da expansão portuguesa, vem fazer concorrência a estas crónicas de forma mais profissional, intercalando episódios na nossa história. Faz crónicas diárias num jornal de Macau, fará uma exposição fotográfica sobre esta experiência na Sagres que também integrará num dos seus próximos livros. A presença de ambos a bordo permite alargar o leque de temas de conversa e eles são já os primeiros ouvintes das estórias desta epopeia que está quase terminada

terça-feira, julho 17, 2012

11NOV2010 - 296º Dia - Chegada a Goa!

Navegámos até dia 5 atravessando a metade do Oceano Índico ao sul da Baía de Bengala com ventos ainda predominantemente de WSW. A monção de SW ainda estava bem instalada. A depressão cavada que se aproximava vinda de leste transformou-se mesmo em tempestade tropical e teve até direito a nome próprio. O Jal atravessou a baía de Bengala num trajecto paralelo ao nosso, por norte, e foi provocar vários estragos na Índia antes de enfraquecer. No dia 5 passámos ao sul do Sri Lanka, a cerca de 30 milhas de costa para fugir ao fluxo mais forte de correntes contrárias, e guinámos para NW. Foi nesta altura que sentimos o maior efeito do Jal que se fez sentir ao longo de dois dias com vento forte, alguma chuva, e ondulação a atingir os 3 metros. Passámos o cabo Comorim, no extremo sul da índia, na madrugada de dia 7. Com a sua saída na costa do Malabar, o vento rodou para sul e pudemos finalmente caçar pano e fazer dois dias de vela. Passámos ao largo de Cochim no dia seguinte. O lixar das madeiras avançava e assim que parou de chover avançámos com as três demãos necessárias para que o envernizamento resista ao ambiente agreste a que está sujeito. Avançavam também as pinturas dos brancos e pretos e faziam-se alguns treinos para o rápido envergar dos fatos de protecção térmica e equipamento de combate a incêndios. Os dias vão passando lentamente mas a chegada a Lisboa já parece uma realidade muito mais próxima e vêem-se em vários locais de trabalho os quadros com os dias que faltam que são diariamente riscados: 51, 50, ..., 41. As conversas também versam sobre o tipo de chegada que cada um quer, as pessoas que querem ver primeiro, o que querem comer na primeira refeição, etc., etc. Há quem tenha sardinhas congeladas desde o verão para matar saudades logo que possível. Sempre que as tardes estão mais solarengas o convés enche-se de desportistas que complementam as suas dietas com o desgaste físico para chegarem a casa em forma. Estamos desde ontem praticamente a pairar nas proximidades de Goa. Temos estado a acabar os preparativos para o porto e hoje, ao longo da tarde, caçámos o pano latino e descemos a costa ao longo das praias entre a foz do rio Chapora e a foz do rio Mandovi. Entrámos na baía da Aguada para tirar algumas fotos ao navio com o forte e a igreja em fundo. Seguidamente subimos a costa, à vela e mais próximos das mesmas praias, que estavam repletas de gente. Carregámos todo o pano e ficámos a pairar junto a Baga Point, onde chegámos ao pôr-do-sol. Com uma bandeira de 12 panos e tendo já estado três vezes em Goa, era impossível não reconhecerem o navio. Como o navio se manteve bem estável a pairar, foi aí mesmo que realizamos um jantar colectivo no poço. O pretexto é o Dia de São Martinho e a comemoração dos três anos de comando. Era para ser um Magusto com castanhas mas o nosso fornecedor de alimentação na Malásia, apesar de as ter prometido, não as forneceu. Entretanto já perguntámos para Goa e nem sabem o que é! O importante é o convívio e a manutenção do bom ambiente a bordo, fundamental para que cada um sinta que é parte desta missão e tenha gozo nela apesar do enorme esforço que acarreta para a maioria em termos pessoais. Para nosso deleite e dos que estavam em terra, acendemos a iluminação de gala. Espectacular! Goa chegou a ser considerada, no sec. XVI, a segunda cidade de Portugal quer pelo número de habitantes, quer pelo comércio e património edificado. A cidade foi desenvolvida pelos portugueses à imagem de Lisboa e dizia-se mesmo que quem vê Goa vê Lisboa. A noção da importância estratégica de Goa é muito anterior ao ano 1510 em que Afonso de Albuquerque a conquistou para daí controlar o Império Português da Ásia. A localização estratégica a meio da costa do Malabar, as riquezas naturais, a agricultura e a rede de comunicações para o interior que os quatro rios da região permitem, fizeram a cobiça de Goa por diferentes povos ao longo dos tempos. O seu povoamento vem do neolítico, habitando em grutas junto à costa. Dizem as "Purânas", escritas sagradas, que cerca de 500 anos antes de Cristo, o deus hindu Vishnu, na sua sexta encarnação teria conquistado a região de Goa colonizando-a com tribos arianas e brâmanes. Cerca do final do primeiro milénio da nossa era, Krishna I entrega Goa aos Silharas que, em 250 anos, a transformam num importante centro do comércio marítimo da região. De conquista em conquista, Goa cai nas mãos dos muçulmanos do sultanato de Deli em 1237. Os muçulmanos perdem e voltam a conquistar a região estando no poder por alturas da chegada dos portugueses. A 20 de Maio de 1498, Vasco da Gama chega a Calecute e, após muitas vicissitudes e dificuldades criadas pelos influentes muçulmanos que dominavam o comércio e viram o seu monopólio em risco, conseguiu abrir uma brecha e criar condições para o estabelecimento de uma rota comercial directa para Portugal por via marítima. Dois anos depois chega a esquadra de Álvares Cabral que tinha descoberto o Brasil pelo caminho e consegue, a custo, negociar a instalação da necessária feitoria - uma casa murada que desse segurança aos mercadores e protegesse as mercadorias. Mas as artimanhas dos muçulmanos aguçada pela sua inveja e receio de perder o controlo do comércio conseguiu organizar uma revolta do povo contra os portugueses provocando um assalto à feitoria e a chacina de muitos dos nossos. Com todas as mercadorias perdidas, a esquadra bombardeia Calecute, destrói os navios aí fundeados e retira para Cochim onde sabiam reinar um rei inimigo do Samorim de Calecute. Mas esta esquadra teve que fugir perante um ataque dos de Calecute. Como já estava carregada, regressou a Portugal. Na segunda viagem de Vasco da Gama, em 1502, fruto dos acordos com os Rajas, já seria estabelecida uma feitoria em Cochim e uma fortaleza em Cananore. Ficam alguns navios na Índia para controlar a costa, sendo um deles comandado por Afonso de Albuquerque. O comércio da Índia estava a tornar-se demasiado importante para a coroa mas os reveses que aconteciam nas negociações locais não se compadeciam com as decisões tomadas à distância. Assim, D. Manuel nomeou um Vice-rei para a Índia sendo D. Francisco de Almeida o primeiro a ocupar o cargo, deslocando-se com uma esquadra de 20 navios, uns para ai permanecerem e outros para regressarem a Portugal na monção seguinte carregados de especiarias. Iniciou-se assim a presença da Marinha no Índico que duraria quase 5 séculos. Na altura o objectivo era tapar o acesso dos navios árabes, turcos e egípcios às especiarias, permitindo-o apenas a navios expressamente autorizados. Em 1509 o Vice-rei vence a importante Batalha de Diu que aniquila as esquadras muçulmanas e estabelece definitivamente o nosso domínio absoluto do Índico para os próximos 30 anos. Afonso de Albuquerque substitui D. Francisco de Almeida após a Batalha de Diu e, pela localização estratégica, decide conquistar Goa aos muçulmanos que a tinham conquistado aos Hindus em 1470. Foi em Fevereiro de 1510 e sem grande resistência. Mas a cidade seria reconquistada pouco depois pelos muçulmanos e, apenas com o apoio de uma nova esquadra entretanto chegada é que se consegue reconquistar Goa para os portugueses em 25 de Novembro de 1510, dia de St.ª Catarina, designada a padroeira de Goa. Em 1534 Goa torna-se na capital do Império Português na Ásia que entretanto se tinha estendido por toda a região. A cidade é construída à semelhança das capitais europeias, com grandes templos renascentistas que ainda hoje podem ser apreciados. Albuquerque estimulou o casamento entre os soldados portugueses e as mulheres de Goa e desenvolveu-se rapidamente uma população indo-portuguesa de religião católica. Aqui se instalou a sede da Companhia de Jesus para a evangelização de todo o Oriente, se construíram os melhores colégios, hospitais, gráficas, etc.. Ao longo dos anos Goa sofre com a introdução da inquisição, com as perdas para os holandeses de várias possessões asiáticas devido à nossa perda de independência no período dos Filipes, com a ocupação de vários fortes pelos ingleses a pretexto de nos protegerem das invasões Francesas de Napoleão, etc. Em 1947 a Índia torna-se independente e Salazar não atende os pedidos de negociação para a saída de Goa. A população Goesa, tendo uma cultura própria e melhor nível de vida, também se queria manter portuguesa. Em Dezembro de 1961 as tropas indianas invadem Goa, Damão e Diu pondo fim à soberania portuguesa destes territórios. A ONU ainda prepara uma resolução condenatória mas foi vetada pela União Soviética. Portugal reconhece a integração de Goa após o 25 de Abril de 1974 e instala um Consulado em 1994. Actualmente com cerca de 1,2 milhões de habitantes, 65% hindus, 30% católicos e 5% islamitas, Goa prospera devido ao comércio, turismo, recursos minerais, floresta e pesca. O rio Mandovi que liga Pangim ao Índico não tem fundos para a Sagres pelo que, à semelhança das três visitas anteriores, atracaremos no Porto de Mormugão, junto à cidade de Vasco da Gama. Será amanhã às 09:00 depois de embarcado o piloto cerca de uma hora antes. O programa da estadia é muito preenchido e conseguimos, a custo, libertar o sábado de todas as actividades programadas, concentrando-as nos outros 3 dias. Será o único dia livre atracado nos 38 dias que vão de Kelang a Alexandria. Este é o mês com mais navegação em toda a viagem, mas a caminho de casa é bem mais fácil. Depois contaremos tudo!

sexta-feira, julho 13, 2012

01NOV2010 - 286º Dia - Já a navegar no Oceano Índico!

Chovia ao nascer do sol da passada segunda-feira, 25 de Outubro, pelo que os nossos convidados não puderam assistir à efeméride astronómica. Uns meses antes, o facto de estar a chover ao crepúsculo matutino seria comemorado pelos cadetes com um sorriso e um voltar para o outro lado na cama. Significaria que não haveria observação de estrelas para o ponto astronómico e não teriam que se levantar. Quando se é cadete na Sagres trabalham-se muitas horas diárias e qualquer pequena folga é bem-vinda. Estávamos em aproximação final à barra de Kelang e embarcámos piloto às 07:15 para percorrer as 10 milhas de canal até ao Terminal de Cruzeiros, onde chegámos às 09:00, sem novidade. O cais ficava longe de tudo! 20 minutos até à cidade de Kelang, de 1,2 milhões de habitantes, e uma hora, sem trânsito, até Kuala Lumpur (KL) . Recebemos a bordo os oficiais da Marinha Malasiana que nos vieram cumprimentar, despedimo-nos dos convidados que fizeram esta curta navegação connosco, e seguimos para a ronda de cumprimentos. Primeiro à autoridade portuária, depois à Polícia de Kelang onde tirámos a sempre útil fotografia com o seu chefe que pode sempre ser utilizada quando em apuros. Seguiu-se a visita ao Instituto Hidrográfico (IH) da Malásia, a única unidade naval nas proximidades. Um IH muito moderno, totalmente certificado em qualidade e com muitas semelhanças com o nosso. À noite oferecemos a nossa recepção oficial, a terceira numa semana. O mau tempo que se fazia sentir em KL e a distância à capital provocaram várias ausências de convidados que tinham confirmado a sua presença, mas ainda assim foi possível receber várias entidades e vários portugueses que ficaram até tarde a desfrutar desta oportunidade de matar saudades de Portugal. As exclamações de admiração e satisfação surgiam à medida que iam descobrindo os vários acepipes que lembram o nosso país. As maiores exclamações foram naturalmente para a entrada das travessas do bacalhau e, depois dos discursos e brindes, para a entrada dos pastéis de nata. Ao segundo dia oferecemos o tradicional almoço de retribuição de cumprimentos com o casal de Embaixadores de Portugal, o ex-vice CEMA que é descendente de portugueses, o administrador do terminal de cruzeiros, dois oficiais da Real Marinha da Malásia e as nossas já conhecidas Drªs Maria João Liew e Cátia Candeias. Nessa tarde ficámos livres e fomos fazer a nossa primeira incursão a KL, jantando em Kelang no regresso. Quarta-feira almoçámos num restaurante da famosa rua Bintang a convite do Embaixador Faria e Maya e as senhoras que organizaram esta nossa passagem pela Malásia. Seguiu-se um passeio pela cidade e o regresso a bordo para jantar, a convite da Autoridade Portuária, no Clube Náutico de Kelang. Um jantar informal com alguns dos dirigentes e respectivas mulheres, o que nos permitiu ficar a conhecer melhor a culinária e as pessoas. Os problemas e desafios dos casais são semelhantes aos nossos. O interessante deste jantar e de toda a Malásia é a forma como convivem as três principais comunidades: muçulmana, indo-budista e chinesa. Nota-se alguma prevalência e influência da primeira. No jantar todos beberam álcool menos um casal muçulmano, embora perfeitamente integrado nas conversas. Fizeram questão de nos dar a provar uma grande variedade de comidas, incluindo a sopa picante tailandesa de que já éramos fãs desde Banguecoque. Mas faltou uma coisa: o Rei das Frutas, o Durian. Disseram que sabia muito bem e que cheirava muito mal, sendo capaz de empestar o ar de qualquer casa ou restaurante por vários dias. O dia seguinte foi o mais carregado. Às 08:00 já estava no cais o Comendador Eugénio da Luz Campos, nosso Cônsul Honorário, com a menina dos seus olhos. O seu Mercedes K500 de 1936, único no mundo, que vinha para uma sessão de fotografias junto à Sagres, também de construção Alemã e de 1937. O carro é fabuloso, tem um "cantar" que parece um relógio. Ao que percebemos foi mandado construir por Hitler para oferecer a um herói da aviação alemã. Depois de várias vicissitudes teve um acidente e estava muito danificado na Austrália, onde o Comendador o foi descobrir. Depois de ter de mandar vir um engenheiro da Mercedes para vir autenticar a viatura porque não acreditavam que fosse original, esta foi reparada na Alemanha ao longo de três anos, estando agora impecável. Seguimos os oficiais, todos menos o de serviço, com o Comendador para KL a fim de visitar as torres gémeas Petronas. Nesse dia, logo muito cedo, tivera que ir um grupo de 8 pessoas para a fila a fim de adquirir os nossos ingressos, um por pessoa. Antes ainda parámos no Mercado de Artesanato de Pasar Seni onde se vendem sedas, roupas tradicionais, pedras, madeiras trabalhadas, cestaria, etc. As torres Petronas, com 452 metros de altura, são as torres gémeas mais altas do Mundo sendo um símbolo de KL e da Malásia testemunhando o seu progresso e conquistas socioeconómicas. Terminada a construção em 1996, as torres de 88 andares cresceram a uma velocidade impressionante de menos de 4 dias por piso e terminaram antes do tempo graças à brilhante ideia de entregar a construção de cada uma a empresas diferentes, uma russa e outra sul-coreana, o que originou uma feroz competição. Na base das torres encontrámos um centro comercial com lojas de luxo, alguns restaurantes e a sala de concertos da Orquestra Filarmónica da Malásia. Rodeada de jardins bem cuidados a visita é muito aprazível sendo a única dificuldade a de encontrar um local onde se consiga, com uma câmara normal, tirar uma foto de "corpo inteiro" às torres. Após esta memorável visita, o Comendador quis marcar ainda mais a nossa passagem pela cidade e convidou-nos para almoçar no restaurante rotativo da Torre Menara, a 282 metros de altura. Aí apareceu com o terceiro carro do dia, depois do K500 e do Aston Martin da manhã, um Ferrari, também de colecção. Construída para melhorar a qualidade das comunicações na região, a torre de 452 m é a quarta mais alta do Mundo. No restaurante pudemos experimentar os dois bufetes, asiático e internacional. Alguém falou do Rei das Frutas e o Comendador que merecia todas as atenções do pessoal do restaurante, mandou comprar Durian para nos dar a provar. Primeiro estranha-se mas depois até se gosta, caso se consiga ultrapassar o problema do cheiro intenso, tapar as narinas enquanto se mastiga é uma boa técnica. Mas comer Durian num dos mais luxuosos e carismáticos restaurantes de KL é que é inaudito. Só mesmo a pedido do nosso Datuk! Seguiu-se a visita ao Museu Nacional, alguns miradouros e centros comerciais e fomos jantar ao restaurante típico espanhol "La Bodega", na zona de Bangsar. Comemos tapas variadas. O terminal de cruzeiros onde ficámos atracados foi recentemente requalificado e reinaugurado. Tem boas condições de atracação apesar dos 4 metros de amplitude de maré e as acessibilidades resolveram-se colocando sempre táxis à disposição. Os transportes por cá são muito em conta para os nossos padrões. A obsessão da segurança é que obrigou a que as visitas se deslocassem de autocarro e fossem todas recenseadas à chegada. Ainda assim recebemos quase mil visitantes entre escolas e passageiros de um navio que ali esteve umas horas. A história da Malásia tem sido altamente condicionada pela sua localização geográfica estratégica sobranceira ao Estreito de Malaca e entre os oceanos Pacífico e Índico. Ao longo dos séculos esta posição foi atraindo comerciantes e conquistadores começando pelo sec. VII com os do Sião, os indonésios de Srivijaya e Majapahit, os muçulmanos de Malabar, da Pérsia e da Arábia. No sec. XVI os portugueses, no seguinte os holandeses e no seguinte os britânicos. O país é uma federação de estados localizados em duas zonas separadas: a peninsular - Península Malaia e Malásia Oriental situada na ilha do Bornéu. O povoamento foi feito a partir da China cerca de 2000 anos antes de Cristo. Mas a história do país está intimamente ligada a Malaca que foi fundada em 1400 por Parameswara, um príncipe proveniente de Sumatra que a tornou num grande porto internacional com muita prosperidade. Parameswara converteu-se ao islamismo em 1414, ao casar-se com uma princesa de Pasai, e passou a chamar-se Sultão Iskandar Xá, tornando Malaca num sultanato. Após a sua morte em 1424, sucedeu-lhe o filho que para se defender dos ataques do Sião, se aliou aos chineses, interessados naquela localização estratégica. Com os seus poderes reforçados, o sultanato controlava a península Malaia e Sumatra, tendo contribuído para a disseminação do islamismo na região. Malaca foi tomada pelos britânicos em 1795 que se estenderam a Singapura e a outros sultanatos da região ao longo do século seguinte. Em 1909 recebem também alguns estados do então Sião. Os ingleses tinham interesse puramente comercial nesta zona de onde exportam o estanho e o ouro. Depois introduzem a tapioca, a pimenta e o café. Mas foi a borracha, introduzida a partir do Brasil em 1877, que se tornou na principal exportação, para satisfazer as necessidades da Europa. Mais tarde o óleo de palma junta-se à borracha como produto mais exportado. Todos estes produtos estavam dependentes de uma poderosa força agrícola que os malaios não asseguravam tendo os ingleses trazido milhares de trabalhadores do sul da Índia. As minas, portos e indústria atraíram os chineses. Ocupada entre 1942 e 45 pelo Japão, foi devolvida aos ingleses que criaram a Península da Malásia com um governo controlado por si. Pouco depois a Malásia torna-se independente dos Ingleses, ao que se segue um período de 4 anos de guerrilha entre etnias malaia e chinesa (simpatizante da revolução cultural da China). Feita a pacificação através de campanha militar o país evoluiu em direcção ao estado moderno de hoje. Contudo as tensões étnicas continuam a existir. Foi essa diferenciação que em 1965 levou ao acordo de separação de Singapura por ter forte influência chinesa e, portanto, não se rever nas políticas islamitas da Malásia, e pelo seu interesse em manter uma boa relação com a Indonésia, incompatibilizada com a Malásia devido à anexação dos Estados do Bornéu. Os malasianos, povo da Malásia, são cerca de 27 milhões, constituídos por malaios (58%), esmagadoramente muçulmanos, chineses (32%) e indianos (9%). As confissões religiosas mais seguidas na Malásia são a muçulmana (53%), a budista (17%) e as crenças tradicionais chinesas (12%) e Cristã a partilhar com o Hinduísmo cerca de (16%). A língua oficial é o malaio mas fala-se muito o inglês e o mandarim. O Governo é assegurado por um Rei, escolhido entre os Sultões hereditários de 9 estados em regime de rotação mudando a cada 5 anos. O primeiro-ministro é escolhido da maioria do parlamento. A Malásia mantém o equilíbrio entre malaios, chineses e hindus através de um sistema de governo que combina desenvolvimento económico e políticas que promovem a participação de todas as etnias. A partir dos anos 80's o país cresceu muito e a economia deixou de ser baseada na agricultura para seindustrializar em áreas como informática e electrónica. A crise económica asiática afectou sobremaneira o país em 1998 provocando instabilidade pública e confrontos étnicos, mas a Malásia está de volta ao crescimento acelerado e, apesar de podermos observar alguma prevalência de regras islamitas, todas as etnias e credos convivem aparentemente sem problemas de maior. No entanto, existe uma campanha muito forte para a união dos malasianos. Nas ruas e por todo o lado a imagem do primeiro-ministro de indicador em riste e o logótipo "1" com as cores do país têm por objectivo estratégico apelar à unidade nacional perante tanta diversidade cultural e religiosa. O petróleo, o comércio marítimo com o porto de Kelang a ter um papel fundamental, a indústria electrónica e a agricultura continuam a assegurar a viabilidade económica e progresso do país. Após as despedidas e agradecimentos largámos às 10:00 desta sexta-feira. Aproveitámos o vento para afastar do cais e a suave corrente para descair a ré até estar safo e avançar para sair o canal norte. Havia um rebocador pronto mas demos instruções ao piloto para que este ficasse safo sem interferir. Quando a certa altura a aguagem do rebocador estava a interferir com a nossa manobra advertimos o piloto que prontamente o mandou afastar. Hilariante foi quando estabelecemos o nosso dispositivo de protecção contra piratas e explicámos ao jovem e inseguro piloto que o pessoal armado era "for the pirats" e ele entendeu "for the pilots", desfazendo-se a rir, e aliviado, quando percebeu o engano. Depois de desembarcado o piloto ainda passámos por um navio tanque acabado de encalhar na margem do canal e que, com a maré a vazar, estava em sérios riscos. Mais uma para nos lembrar que estas coisas acontecem e não nos deixar aliviar a atenção a todos os pormenores. Passámos ontem entre a ilha de Samatra e as Ilhas Nicobar deixando para trás Banda Aceh que se situa ao norte da Samatra. Estamos oficialmente no Oceano Índico e terminámos o périplo asiático. Foi uma sequência infernal de portos com muita actividade protocolar e muito pouco tempo de navegação pelo meio, o que nos dificultava o descanso e os preparativos. Já se sente uma ondulação de oceano, com cerca de dois metros de altura. As previsões meteorológicas indicam um agravamento do tempo com a passagem de uma depressão cavada vinda de leste. Apesar de apresentar ventos menos favoráveis por sul, já decidimos que a vamos deixar passar a norte para termos mais margem de manobra. Até breve! por: Pedro Proença Mendes, Cte do NRP "Sagres"
30OUT2010 - 284º Dia - Aniversário da Barca!
Faz hoje 73 anos que a "Sagres" foi lançada ao mar, apenas três meses e meio após o assentamento da quilha. A barca "Sagres", a segunda na Marinha Portuguesa, foi construída nos estaleiros da Blohm & Voss, em Hamburgo, em 1937, tendo, na altura, recebido o nome Albert Leo Schlageter. Era o terceiro de uma série de quatro navios encomendados pela Marinha Alemã, que incluía o Gorch Fock (1933) - que veio a ser o Tovarish (1952-2003) -, o Horst Wessel (1936) - actual Eagle da United States Coast Guard -, e um quarto navio nunca concluído, por entretanto ter eclodido a segunda Grande Guerra, cujas vergas e mastaréus, vieram posteriormente a ser utilizados no Gorch Fock (1958), actual navio-escola da Marinha Alemã, construído vinte anos mais tarde, de acordo com os planos dos anteriores veleiros. Além dos navios mencionados, o estaleiro alemão construiu um outro veleiro desta classe, o Mircea (1938), satisfazendo uma encomenda da Marinha Romena. No final da guerra, aquando da partilha dos despojos pelos vencedores, o Horst Wessel e o Albert Leo Schlageter couberam aos Estados Unidos. No entanto, apesar dos esforços do Comandante americano da Base Naval de Bremerhaven, não foi possível encontrar, nos Estados Unidos, uma instituição que quisesse ficar com este navio. Pelo que, ao fim de três anos, acabou por ser cedido à Marinha do Brasil, como compensação dos danos causados pelos submarinos alemães aos seus navios. Em 1961 foi adquirido por Portugal, no sentido de substituir a antiga "Sagres", que, curiosamente, também havia sido navio alemão. De facto, a anterior "Sagres" foi lançada à água em Bremerhaven, em 1896, com o nome Rickmer Rickmers. Em 1916, quando a Alemanha declarou guerra a Portugal, este veleiro encontrava-se nos Açores, tendo sido então arrestado. Baptizado com o nome Flores, foi colocado à disposição dos ingleses, que o usaram como transporte. Em 1924, terminada a sua utilização como navio mercante, foi incorporado na Marinha Portuguesa como navio-escola e com o nome "Sagres". Razão pela qual, nomeadamente no estrangeiro, o actual navio-escola "Sagres" é, por vezes, apelidado de "Sagres II". Adaptado de "Sagres - Construindo a Lenda", 2009, do Cte António Manuel Gonçalves

quarta-feira, julho 11, 2012

24OUT2010 - 278º Dia - Malaca!
Saudades de Portugal sem nunca ter ido a Portugal! Isto é Malaca! Largámos ferro frente a Malaca hoje às 09:00! Os fundos são baixos e há muitos baixios e pedras pelo que apenas nos conseguimos aproximar até uma milha de distância. Mas a Sagres é suficientemente vistosa para dar nas vistas a esta distância, sendo que içámos uma das nossas maiores bandeiras nacionais para que não houvesse dúvida de quem éramos. Há já vários meses que o número de contactos sobre Malaca vinham a crescer. O interesse que a nossa curta estadia estava a despertar antecipava uma visita em cheio, e assim foi. No seguimento da política portuguesa para o Índico, iniciada por D. Francisco de Almeida (vice-rei da Índia), Afonso de Albuquerque, seu sucessor, persegue o objectivo estratégico de controlar as rotas marítimas de acesso a este oceano, propondo-se controlar as cidades que dominavam as passagens dos vários estreitos. Assim, para controlar o comércio com o extremo oriente, era necessário estar em Malaca, entreposto das rotas comercias com a China, as Molucas e, mais tarde, o Japão. Malaca situa-se na margem norte do estreito a que empresta meritoriamente o nome, o qual é ladeado, a sul, pela ilha Samatra (Indonésia). Neste estreito passavam e passam todos os navios em trânsito entre os oceanos Índico e Pacífico. Com um muito reduzido número de navios e com o apoio de terra só passava quem fosse autorizado. Malaca era controlada por um sultanato muçulmano, Afonso de Albuquerque tentou primeiro negociar a instalação de uma feitoria com protecção militar e, respeitando a soberania do Sultão, obter privilégios no comércio para os portugueses. Mas as negociações não resultaram e o Governador do Estado Português da Índia enviou uma armada, comandada por Diogo Lopes Sequeira, que falhou a conquista de Malaca em 1509. Albuquerque chama a si próprio a responsabilidade de comandar uma segunda tentativa, conquistando Malaca em 1511. Já lá viviam vários portugueses que ficaram prisioneiros ou desertaram em 1509, mais soldados de fortuna (mercenários), comerciantes e aventureiros. O Sultão recua para a zona de Singapura, na ponta sul da península, iniciando a sua resistência. A população local que ficou, muçulmana, acomodou-se ao invasor e foi colonizada. Construiu-se a fortaleza a que se deu o nome de "A Famosa", pelo qual é identificada em todas as línguas e que se deve à sua envergadura e por ser inexpugnável. Ainda em 1514 teve lugar uma das mais históricas e bem sucedias batalhas navais portuguesas, a Batalha Naval de Malaca, em que a Armada portuguesa nega, brilhantemente, aos Javaneses a conquista da cidade. O nosso domínio no estreito dura 130 anos, até 1641, altura em que Portugal ficou sob o domínio filipino. Estes vedaram o abastecimento aos Holandeses, nossos amigos e seus inimigos, que se abasteciam em Lisboa e obrigaram-nos a ir procurar as especiarias na fonte. Em Malaca ficaram muitas famílias mistas e de luso-asiáticos que foram preservando notavelmente a sua identidade comum integrados nas comunidades malaia, indiana, holandesa, chinesa, etc. A sua ocupação principal era a pesca e eram muito humildes. A continuidade desta comunidade foi assegurada pela igreja católica através das suas ordens missionárias - São Francisco Xavier foi um dos que por cá passou. Reza a lenda que o navio que trazia S. F. Xavier para Malaca apanhou uma enorme tempestade que ele acalmou levantando o seu crucifixo ao céu no tombadilho tendo-o deixado cair ao mar e ficado muito triste. Uns dias mais tarde, já na praia, um caranguejo trouxe-lhe o crucifixo sobre a carapaça e ao recolhe-lo verificou que esta ficou marcada com a cruz. Ainda hoje há uma espécie de caranguejos que aparece só nesta zona na época das tempestades e que tem uma cruz desenhada na carapaça, sendo utilizados como amuletos. Em 1932 dois padres compram um terreno onde instalam a comunidade dispersa, e viemos agora encontrar um grupo de 3000 pessoas chamadas Silva, Melo, Pereira, Mendes, etc., 1300 das quais vivem no Bairro Português. Falam Cristang, um crioulo baseado no português arcaico do qual aqui juntamos algumas expressões: Comandante - Cabeça di barco Fotografia - Pintura Avião - Barco a boar Estrela cadente - Estrela de cu comprido Dormir - Cheirar a alfada Sede - Secura Muito - Tanto Bonita - Benfeta Muito Obrigado - Muito mercê Homem - Macho Mulher - Femi Pestana - Capa di olho Sobrancelhas - Cabelo di testa Orgulhoso - Gabado Em coordenação com a Embaixada, assegurada pelo Embaixador António de Faria e Maya que já nos tinha recebido em Banguecoque e que também é aqui acreditado, coadjuvado pela Dr.ª Maria João Liew, organizou-se uma visita muito especial a esta cidade. Alugámos uma embarcação que realizou vários percursos transportando os marinheiros a visitar a cidade e vários grupos da comunidade lusa a visitar o navio. Fomos recebidos no cais pelo nosso Embaixador, pelo Cônsul Honorário na Malásia e por um grupo que nos aplaudiu e cumprimentou entusiasticamente. Dançaram e cantaram a Ti Anica e o Malhão - a letra era perfeitamente perceptível. Depois uma que nos foi especialmente dedicada: Sekush Marinyerus - Ala Marinheiros Sekush marinyeros - Sei que os marinheiros Adoria ma fada - Adoram a farda Kung amor segrado - Com amor sagrado Se poish altanyero - São pois altaneiros Sauda belargada - São da velha guarda Da nossa pasado - Do nosso passado Pasado ne gloria - Passado de glória Kun keng moita fama - Que deu grande fama Amas de Portugal - Ao meu Portugal A senti de storia - Assim diz a história Dosfetu do Gama - Dos feitos do Gama Dos akues Cabral - De Zarco e Cabral Marinyeros, marinyeros - Marinheiros, marinheiros E grama nossa bandera kung amor - Ergam a nossa bandeira com amor E disay mundu nunteru - E dizei ao mundo inteiro Keng mas brado marinyeros - Que o mais bravo marinheiro Di Portugues poka saba te balor - É português porque sabe ter valor Versão de Noel Felix Tradução de Margaret Sarkission (1990) Seguiu-se a visita à "A Famosa" que após as destruições dos holandeses teve em 1808 a sua "Porta de Santiago" e o pouco que restava salvo por Sir Stamford Raffles, um oficial inglês. Aí encontrámos uma estátua de S. F. Xavier, e várias pedras tumulares, incluindo a de Miguel de Castro, filho de D. João de Castro (Vice-rei da Índia) que foi Comandante de Malaca. Estava cheia de turistas locais e estrangeiros. Seguidamente fomos visitar o Bairro Português onde tirámos centenas de fotos com os habitantes e visitámos o pequeno museu da comunidade. Visitámos o Restaurante de Lisboa, o São Pedro e almoçámos no Papa Joe do Sr. Manuel Bosco Lázaro que serviu pratos muito saborosos e actuou com o seu grupo musical e os seus dançarinos. Fados de Coimbra, a Samaritana, a Casa Portuguesa, o Malhão, etc. Até tivemos que ir dançar com o grupo o Tiroliroliro. Um dos pratos mais apreciados foi a "Galina" - galinha estufada com muitas especiarias. Outro foi o peixe assado no sal - embrulhado em prata com folha de bananeira. Até as lulas fritas são nossas. Estes luso-asiáticos são alegres, gostam de festa e de dançar, e misturam-se homens e mulheres nas danças, ao contrário das restantes comunidades. Perguntava-nos uma diferenciada descendente: "Diga-me o que é que vocês têm para que ao fim de 400 anos de se irem embora e depois de aqui passarem os holandeses e os ingleses, nós nos continuarmos a sentir portugueses?". A língua, a gastronomia, a dança e a música são factores fundamentais da identidade de uma cultura e, apesar de ao longo dos anos terem irradiado a partir de Malaca várias comunidades luso-asiáticas para países e locais da região, foi criada a Associação Cultural Korsang di Melaka (Coração em Malaca), para que o nosso legado não seja esquecido e que a comunidade luso descendente se orgulhe de continuar a mostrar ao mundo as nossas tradições, e cultura que contribuiu para a nomeação de Malaca como património da Humanidade. Presidida pela Drª Luisa Timóteo, tendo como Vice-presidente a Drª Maria João Liew, a associação tem angariado sócios em todo o Mundo e o seu trabalho foi de tal forma reconhecido que o Instituto Camões, a Fundação Oriente e a empresa Logoplaste, como mecenas, se juntaram para a apoiar nos seus projectos. Em Malaca fomos encontrar a Socióloga Cátia Candeias que, ao abrigo do projecto "Povos Cruzados: Futuros Possíveis", está a revitalizar e assegurar a continuidade do legado histórico, cultural e humano desta comunidade. Pudemos apreciar o carinho que têm por si, tanto as crianças suas alunas como os adultos de quem recolhe a memória oral. A Drª Cátia mobiliza, ensina a rezar em português, dá aulas da língua adaptada à realidade local, faz animação cultural, etc., etc. Saibam mais e acompanhem estes trabalhos em www.accemkdim.com. Falta dizer que as nossas deslocações em Malaca foram feitas num antigo Rolls Roice que faz parte da colecção de automóveis antigos do Cônsul de Portugal na Malásia. O Tan Sri (muito considerado) Comendador Eugénio da Luz Campos tem uma impressionante história de vida. Nasceu em Timor e perdeu os pais durante a ocupação japonesa da ilha durante a 2ª Guerra Mundial. Aos 6 anos foi recolhido por uma tia que vivia em Malaca. É "milionário" - tem negócios de petróleo, transporte marítimo, imobiliária, etc., e apoia muito a comunidade. Tem nacionalidade Malasiana e Timorense, estando a investir muito naquele jovem país. Este Rolls pertenceu ao Governador de Hong Kong e foi adquirido na sucata e depois restaurado. Os grupos que vieram a bordo visitaram o navio e conviveram com os marinyeros de Portugal tendo os grupos de danças e cantares actuado para a guarnição. Foram vários os visitantes que vinham com camisolas da nossa selecção nacional, ou outras com referências a Portugal, alguns tinham tatuagens com o emblema das quinas. Houve jovens que manifestavam a vontade de seguir viagem connosco, são ainda os genes de marinheiro. A vinda da Sagres a Malaca era muito aguardada. Veio reforçar a auto-estima da comunidade e foi considerada muito positiva para o orgulho perante as outras comunidades. Foi mais uma etapa da nossa missão de levar Portugal ao Mundo e reforçar a Portugalidade. No final de um dia em cheio recolhemos a bordo e trouxemos o nosso Embaixador, a Embaixatriz Maria da Piedade e a Drª Cátia Candeias, convidados especiais para o trajecto até Klang. Acompanhou-nos também o Realizador Pedro Palma que está a preparar, para a RTP2, um documentário para a comemoração dos 500 anos da chegada dos portugueses a Malaca. Ficaram por visitar alguns palácios, igrejas, resorts e atracções que existem na cidade. O Museu Marítimo alberga uma réplica da "Flor de la Mar", o navio chefe da Armada de Afonso de Albuquerque que tomou a cidade. A 20 de Janeiro de 2012, o Flor de la Mar largou de Malaca juntamente com o Enxóbregas, a Trinidade e o Jong Jawa. carregada a tope com os tesouros conquistados. A Flor de la Mar afundou-se seis dias depois, levando para o fundo do mar o tesouro do Império de Malaca cuja existência é hoje um mistério. Suspendemos o ferro às 17:00 depois de receber a visita do nosso Cônsul! Faina geral de mastros para caçar todos os latinos e voltámos à azafama do tráfego do estreito. Jantámos com os convidados na Camarinha e fizemos um serão, no tombadilho, junto ao leme de emergência com as luzes de costa em fundo e com uma noite fenomenal em que soprava uma leve brisa. Falámos de Malaca, do trabalho da Associação, das estórias da comunidade, da nossa viagem e da Sagres. Deitámo-nos tarde com a promessa de uma alvorada às 06:30 para assistirmos ao nascer do sol, que no mar é sempre lindo. Depois será a entrada em Klang, o porto que serve Kuala Lumpur. Até lá!

terça-feira, julho 10, 2012

23OUT2010 - 277º Dia - Singapura! Largámos hoje da Marina de Keppel Bay em Singapura. Keppel é uma zona muito nobre e nova da cidade de Singapura onde antigamente existiam estaleiros. Rodeada de condomínios privados já construídos e de outros muito futuristas ainda em construção, a marina tem uma zona para iates e um excelente cais onde a Sagres atracou que permite o acesso directo do público. Mas é uma zona calma e ainda recente com pouca afluência de pessoas. A chegada foi a 19OUT, depois de passarmos uma noite atarefada no imenso caudal de navios que passam o Estreito de Malaca. No cais aguardava-nos um grupo muito restrito composto por agentes, jornalistas e o nosso Embaixador Jaime Leitão que nos acompanhou na visita de cumprimentos à Autoridade Portuária. Visitámos a torre de controlo do porto que tem estacionados cerca de 1000 navios a cada momento e movimenta diariamente 70 000 contentores. Quanto maior for o navio, mais económico será o transporte da carga, desde que consiga passar pelos Canais do Panamá e Suez. Este porto, para além de se encontrar numa zona de passagem de navios, é um porto de águas profundas e pode receber todos os navios. A carga pode ser recebida de navios mais pequenos oriundos dos pequenos e pouco profundos portos da região e ser passada para os grandes navios que a levam para o porto de águas profundas de Roterdão para ser distribuída na Europa. Isto é o transhipment. O Porto de Sines também é de águas profundas e está a ganhar espaço neste negócio estando inclusivamente um dos seus terminais a ser explorado pelo Porto de Singapura. A cidade é limpíssima, muito organizada, com muitas zonas verdes e muito regulamentada. Pode-se mesmo dizer que é um jardim com uma cidade implantada. Salta à vista a multa a pagar se não se cumprirem as regras espalhadas por todo o lado e que os residentes não se cansam de nos avisar. Há câmaras de videovigilância por todo o lado, muitos polícias, e uma cultura de queixa - se um carro não para na passadeira o peão telefona para a polícia a dar a matrícula. Chamam-lhe a "Fine City". Cidade fina, agradável, encantadora. Mas fine também significa multa! Existe pena de morte para a posse ilegal de armas ou drogas e até a pastilha elástica é proibida no território. Felizmente, a sensibilização do nosso pessoal teve bom efeito e ninguém foi multado ou teve qualquer problema com as autoridades. Esta foi aparentemente a forma de fazer um paraíso de organização e asseio junto ao equador, no meio da confusão do sudoeste asiático e com uma população de 5,5 milhões de habitantes em que 70% são chineses, 10% malaios e 10% mistos. Aqui convivem em harmonia o confucionismo com o cristianismo, islamismo e budismo. Mas a principal actividade e credo é o shopping and eating - são compulsivos. Há enormes centros comerciais por toda a parte, temáticos ou generalistas, alguns abertos 24 horas por dia. Come-se a qualquer hora. A rede de transportes é muito eficiente e o trânsito muito ordenado. A posse de viatura implica a obtenção de uma licença caríssima e as pessoas optam por não ter carro. Há parques densamente arborizados por todo o lado - chove diariamente e o calor e humidade são insuportáveis mas passa-se muito frio dentro dos táxis, metro, lojas, etc. A cidade está em constante evolução, ganhar território ao mar é sempre um objectivo, e os habitantes com quem contactámos até se queixam de esta ser uma atitude compulsiva. O certo é que aqui não se sente a crise. Todas as grandes companhias globais têm cá sede ou escritório. O emprego está nos 100% e são importadores de mão-de-obra. A qualidade da cidade, a segurança, disponibilidade de comércio e serviços atraem inúmeros milionários, nomeadamente dos vizinhos emergentes - Indonésia e Malásia, que têm aqui residência permanente ou temporária. Este é também o local de compras dos mais abastados da região. Há um parque automóvel riquíssimo e casas e edifícios luxuriantes. Situado no estremo sul da península malaia, o micro-Estado é constituído por uma ilha maior e muitas outras bem pequenas e é habitado há cerca de quatro milénios. Segundo a lenda, Sang Mila Utama, o Senhor de Palenbang procurou aqui abrigo de uma tempestade e viu um animal a quem os seus seguidores chamaram leão e decidiu estabelecer uma feitoria a que chamou singa pura - cidade do leão, nome pelo qual é conhecida desde o final de seculo XIV. A região era habitada por pescadores e tinha algum comércio devido à sua localização mas esteve sempre no meio dos conflitos entre o Sião e Java. Os javaneses ganharam controlo no sec XIV e criaram em Malaca um sultanato de que Singapura fazia parte. Em 1511, com a invasão de Malaca por Afonso de Albuquerque os foragidos do sultanato recuaram para Singapura estabelecendo aí a sua capital que os portugueses destruíram em 1587 e arrasaram em 1613. Em 1819 Sir Stamford Raffles estabeleceu na ilha um porto franco britânico que teve grande desenvolvimento e foi cedido perpetuamente à Companhia das Índias Orientais pelo sultão em 1824. Esteve ocupada durante a segunda guerra mundial pelos japoneses e obteve a independência de Inglaterra em 1958. Em 1962 o povo votou pela integração na Federação da Malásia mas separou-se logo em 1965 sendo actualmente um estado independente. Desde então é governada pelo mesmo partido que tem a obsessão do emprego, habitação e crescimento. A segurança social é eficiente mas cada cidadão tem a sua própria conta corrente e paga por todos os serviços sendo apenas apoiado quando o seu saldo não permite acesso a determinados cuidados de saúde ou outros serviços. A riqueza do país provém do comércio, do turismo e da refinação de petróleo dos seus vizinhos. Viemos cá encontrar um sistema de via verde em que os carros pagam para circular na cidade. Todos têm que ter o porta-moedas electrónico que em Portugal foi introduzido no final dos 1980's e não vingou. Aqui foi por decreto! É imprescindível para as portagens e transportes públicos mas também serve nos restaurantes e lojas. A nossa recepção realizou-se ao segundo dia e teve um papel importante na afirmação da vontade de Portugal que está em processo de instalação da Embaixada em Singapura, autonomizando-a da nossa representação em Banguecoque. Recebemos vários membros do Corpo Diplomático, representantes da Marinha e Portugueses que aqui trabalham e que viemos encontrar bem instalados. Oferecemos ainda uma segunda recepção em apoio da Associação das Industrias da Madeira e Mobiliário de Portugal que aproveitou a nossa presença para aqui vir fazer uma promoção de mobiliário português de luxo. Por cá fala-se o inglês, apesar de por vezes ser difícil de entender. As pessoas são simpáticas e informadas. O nosso maior problema foi a lentidão da internet que nos atrasou muito as nossas tarefas - nas horas de pico nem dava para ver o mail. Na visita à Marinha fomos recebidos pelo Vice-almirante Comandante da Esquadra que, com 40 anos já tem prevista a ascensão a CEMA - cargo máximo, e sair para as empresas logo a seguir. É a pressão das empresas a recrutar militares para os seus quadros. Em Singapura há diversão a qualquer hora pelo que houve sempre algo que fazer, fosse a busca dos melhores preços para os mais recentes lançamentos de material electrónico e roupas ou a visita ao descomunal Hotel Marina Sands, de 2500 quartos, com três torres de 200 metros sobre as quais foi construído um navio estilizado de 300 metros, obra de arquitectos portugueses, onde há bares, restaurantes, piscina, miradouro, etc. Em Clarq Quay, antiga zona de docas e armazéns, há agora uma moderna zona de bares e restaurantes com muita animação de rua. As estátuas do Merlion, meio leão, meia sereia, são o símbolo da cidade e atraem vários turistas que fotografam os descomunais e artísticos edifícios com ele no canto. Em Santosa, pequena ilha contígua, ligada por pontes e teleférico há praias e parques de diversões. A Orchade Road pode levar dias a ser percorrida se quisermos ver todas as montras e centros comerciais. A Chinatonw e a Litle Índia também são de visita obrigatória. Com os seus templos. Há ainda bons museus para visitar. A comida é muito variada e tem muita qualidade, sendo o nosso melhor jantar o que nos foi oferecido pelos Embaixadores Jaime Leitão e Maria Eduarda Grillo, no Indochina que serve gastronomia vietnamita, localizado no Museu das Civilizações Asiáticas, à beira do rio Singapura. Foram as pessoas ideais para nos contar as estórias do living in Singapore. Ele pela sua experiência formal e ela pela sua profissão de arquitecta e decoradora de interiores, de apreciadora de gadjets e de mulher do mundo. Após mais uma série de despedidas, largámos esta manhã em direcção a Malaca e navegamos de novo no imenso caudal de navios. Felizmente o tráfego é bem controlado e as zonas onde há cruzamentos estão bem definidas. Fundearemos logo de manhã e teremos uma embarcação que levará o nosso pessoal para terra e trará visitas a bordo. Até lá!

segunda-feira, julho 09, 2012

18OUT2010 - 272º Dia - khop khun krab Krung Thep! Obrigado Cidade dos Anjos! Largámos esta quinta-feira de Banguecoque, “Krung Thep” para os tailandeses! Na verdade esta é a abreviatura da cidade que tem o nome mais comprido do Mundo e que traduzido para o português é: "A cidade dos anjos, a grande cidade, a cidade que é jóia eterna, a cidade inabalável do deus Indra, a grande capital do mundo ornada com nove preciosas gemas, a cidade feliz, Palácio Real enorme em abundância que se assemelha à morada celestial onde reina o deus reencarnado, uma cidade dada por Indra e construída por Vishnukam". Com cerca de 12 milhões de habitantes, a capital da Tailândia estende-se numa grande área à volta do rio Chao Phraya, de água barrenta, maioritariamente na sua margem esquerda, numa zona em que o rio serpenteia e tem várias ramificações, a 30 milhas da foz. Seria perfeito se não fosse tão poluído. A cidade é riquíssima em Templos Budistas, Palácios e Mercados e tem muito trânsito, sendo os percursos por rio os mais rápidos. A imagem que nos fica do trânsito é o colorido de milhares de táxis das mais variadas cores em tom choque. Faz muito calor e os aguaceiros fortes são frequentes nesta altura em que ainda se faz sentir a monção de SW. Diz a história que os tailandeses eram um grupo étnico minoritário que vivia no sul da China e que, devido à conflitualidade com outros grupos foi sendo empurrado para a península onde agora se situa. Mas há achados arqueológicos recentes que indicam que a região é habitada desde o ano 2000 AC e que a civilização nessa altura tinha tecnologias tão avançadas como as encontradas na China e Índia. O certo é que o primeiro Reino a controlar o Sião foi o de Sukhotai, emergiu no sec. XIII. No sec. XIV o Reino de Ayutthaya tornou-se mais poderoso e conquistou o de Sukhotai. A cidade de Ayutthaya era a capital do Sião quando ali chegou em 1511Duarte Fernandes, o enviado de Afonso de Albuquerque, Vice-Rei da Índia. O interesse dos portugueses era ter uma aliança com o rico Reino que centralizava as trocas comerciais da região. Em troca do fornecimento de armas e munições, os portugueses foram autorizados a instalar um entreposto e iniciou-se uma profícua relação que durou muitos anos e que influenciou a cultura do país. A introdução do piripiri na culinária tailandesa, os fios de ovos e outros doces com ovos, loiças e várias palavras portuguesas são exemplos desta influência. Em 1529, no final do reinado do Rei Ramathibodi II, que assinou em 1516 o tratado comercial com Portugal, havia 300 portugueses em Ayutthaya. O rei atribuiu-lhes uma concessão onde construíram três igrejas e alojamentos. Tinham liberdade religiosa e instalaram-se Franciscanos, Dominicanos e Jesuítas. O rei interessava-se pelos temas da religião pois os tailandeses são muito ecuménicos, mas nunca se converteu ao catolicismo e o povo também não. Em 1650 já eram 2000, maioritariamente mesclados com os locais e constituídos por mercenários, comerciantes e missionários. Muitos tinham desertado das forças portuguesas em busca de fortuna. Havia também portugueses em funções de destaque como o aconselhamento do rei, médicos, interpretes, facilitadores nas relações com os outros reinos, etc. O português constituiu-se como a língua utilizada no comércio e contactos diplomáticos entre Ayutthaya e as nações europeias até meados do sec. XIX, altura em que foi substituído pelo inglês. Mas os mercenários portugueses, cobiçados por saberem manejar armas de fogo e seduzidos pelos atractivos saques aos perdedores das batalhas, não ofereceram os seus serviços apenas ao Sião. Também a Birmânia (Myanmar), que estava sempre em guerra com o Sião, dispunha de vários mercenários lusos. O Sião era cobiçado pela sua riqueza. O rei tinha o monopólio do comércio com o estrangeiro e exportava sedas, especiarias, madeira de teca, elefantes, marfim, ervas medicinais, etc. Os navios que levavam estas mercadorias regressavam com peças de arte, loiças, estátuas, etc., o que tornou muito diversificada a arquitectura e arte na Tailândia. Em 1564 Ayutthaya foi conquistada pelos Birmaneses que subjugaram o reino e levaram consigo o príncipe Naresuan de 9 anos que foi viver com o rei conquistador. Cresceu e estudou com o príncipe birmanês, aprendendo as técnicas e tácticas de guerra e destacou-se pela sua inteligência superior. 6 anos depois, o rei birmanês quis esposar a bela irmã e Naresuan e deu-o a ele em troca. Em 1584 Naresuan torna-se rei do Sião subjugado à Birmânia e, pela sua inteligência e conhecimento das tácticas do opressor, expulsa-os em 1593 e expande inclusivamente o território do Sião, tornando-se num herói mítico do seu povo. O grande aventureiro do oriente, Fernão Mendes Pinto, andou por aqui no século XVI. Na realidade andou entre Malaca, Sião, Indonésia, China e o Japão, lutando contra piratas e comerciando em busca de riqueza. Ou seja, conheceu bem o Sião, após cerca de 20 anos de oriente, era na altura o Europeu que melhor conhecia estas terras. Disso dá-nos conta Mário Domingues no seu livro - que agora se impunha lermos, de abordagem “exímia” (Diário de Notícias, 3/10/1958) à “Peregrinação” do aventureiro. Este livro foi “achado” na nossa biblioteca de bordo. Em 1767, após várias guerras com os birmaneses, que destruíram a cidade, o Rei Rama I decidiu estabelecer uma nova capital. Desceu o rio e uma manhã, ao nascer do sol, encontrava-se frente ao Templo da Oliveira, o que achou um bom presságio e decidiu construir a nova capital na margem contrária, replicando alguns dos palácios e templos da majestosa Ayutthaya. Os tailandeses são muito supersticiosos e até o próprio nome mudam se a vida não lhes corre bem ou se algum monge lhes diz que o nome não é adequado à profissão. Apesar de maioritariamente Budistas (90%) toleram perfeitamente e vivem em sã convivência com os 4% de Islamistas e com os Cristãos e Hindus. Inclusivamente, veneram os deuses e santos de todas as confissões. Viemos encontrar em Ayutthaya os pequenos altares de rua com imagens de Nossa Senhora, São Pedro e São Paulo e conhecemos budistas que fizeram promessas a Fátima. Os jovens Budistas devem compensar os pais passando um período de um a três meses num dos 30 000 Templos como monges, regendo-se pelos seus 227 restritivos mandamentos. Quase todos os rapazes passam por esta experiência na sua vida. As jovens têm a obrigação moral e cultural de compensar os pais tratando deles na velhice. Os Budistas regem-se por 5 mandamentos básicos: não matar, não roubar, não mentir, não cometer adultério e não beber bebidas alcoólicas. O tailandês é uma língua da família do chinês mas não se parece com alguma outra língua. Utiliza 5 tons que para nós são iguais. Não há formas verbais, nem género, nem plurais. O elefante é o animal nacional. Existe em estado selvagem e cativeiro. Eram peças fundamentais nos combates, ainda mais quando conjugados com as armas de foram introduzidas pelos portugueses, foram fundamentais para a indústria da extracção da madeira de teca e para os mais diversos trabalhos que implicassem força bruta, só substituível por maquinaria pesada. Eram registados e inclusivamente reformados aos 60 anos, um luxo. Podem viver até aos 80 anos, e quando morre um passa nas noticias televisivas, usando-se o eufemismo de que “caiu” um elefante. É herbívoro, comendo cerca de 10% das suas 3 toneladas por dia. Os seus excrementos, por serem fibrosos, são utilizados para fazer pasta de papel. Voltando à história. No final do sec. XIX, o Rei Rama V, avô do actual rei, visitou a Europa e trouxe varias ideias para a modernização do país. Assistia-se a uma política de colonização da Ásia pela França e Inglaterra. Na 2ª e 1ª metades dos séculos XIX e XX, respectivamente. A França instalou-se a oriente, na península da Indochina, ou seja no Camboja, Laos e Vietname, e a Inglaterra, a ocidente, na Malásia e antiga Birmânia. Ficando, desta forma, a Tailândia emparedada e com forte pressão sobre si, tendo em mais de um século de colonização dos seus vizinhos pelas duas potencias europeias perdido muito território. Através de ágeis manobras políticas e de diplomacia o Rama V conseguiu ceder “os braços e as pernas preservando a independência do corpo e do coração do Sião”. Actualmente as relações com os vizinhos são boas e as fronteiras estão estabilizadas. Em 1932 o Sião torna-se numa monarquia constitucional com um primeiro-ministro eleito que é o chefe do governo. Em 1939 passa a chamar-se Tailândia, terra dos homens livres. Este epíteto tem que ver com o facto de a Tailândia nunca ter sido colonizada por países ocidentais, nomeadamente europeus, o que aconteceu, com já se disse, com todos os seus vizinhos. Este facto é motivo de orgulho nacional, está-nos bem presente, visto ter sido dito e redito, várias vezes, pelos nossos guias. O actual rei, Bhumibol, subiu ao trono em 1946, sendo o monarca mais antigo em funções. Com 83 anos, encontrava-se hospitalizado durante a nossa estadia. As actividades mais relevantes na Tailândia são a indústria electrónica, a agricultura, o turismo e as pedras preciosas. Tem bons recursos minerais, sendo que o turismo é a maior fonte de receita exterior, é desde há 20 anos o maior exportador de arroz. Os seus mais de 60 milhões de habitantes consomem, cada um, meio quilo de arroz por dia e ainda dá para ser o maior exportador. A humidade é tanta que se vêm caranguejos a atravessar as estradas. Há muitos terrenos alagados, propícios ao arroz. A crise asiática de 1997 provocou uma desvalorização brusca do Bhat que passou num dia para menos de metade da sua cotação face ao dólar americano. Há muitos prédios cuja construção foi interrompida pela crise e ainda aguardam melhores dias. Actualmente existe alguma instabilidade política no país porque, há cerca de 4 anos, o primeiro-ministro foi deposto através de um golpe militar. Tinha governado 6 anos e estava acusado de corrupção. Está exilado mas envia mensagens populistas convencendo o povo de que se voltar vai pagar as dívidas do país e dos cidadãos, distribuir muita riqueza, melhorar a educação e distribuir computadores aos alunos, etc. Existe um movimento que apoia o seu regresso. Os Camisas Vermelhas causaram o pânico, queimaram edifícios e lojas, e provocam o caos afastando o turismo do país. Pela nossa parte não sentimos qualquer sinal de insegurança e até achámos o povo tailandês, para além de simpático e afável, muito feliz e confiante. Têm uma grande adoração pelo seu monarca e vivem em grandes famílias com pais, avós e irmãos e têm uma média de 2 filhos por casal. As mulheres, que antigamente dependiam dos homens, gozam de uma igualdade total e até as vimos a trabalhar na construção civil. A recepção que tínhamos tido à chegada e a atenção que tivemos dos jornalistas reflectiu-se em várias primeiras páginas de jornais e numa presença constante nas televisões, o que atraiu muitos visitantes para o cais apesar do difícil acesso e de se encontrar a mais de uma hora do centro. Iniciámos a segunda-feira com uma visita de cumprimentos ao Comandante da Escola Naval que demonstrou muito interesse na Sagres e na sua missão. Discutimos muito as vantagens de ter um navio destes na formação dos oficiais. Seguiu-se o almoço VIP a borco, com o Embaixador Faria e Maya, o Conselheiro Privado do Rei, a Presidente do Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-Tailândia, a Presidente da Siam Society, que está a coordenar as comemorações tailandesas da chegada dos portugueses, alguns oficiais da Marinha Real da Tailândia, o representante da Comunidade Portuguesa e o Representante dos Luso-descendentes na Tailândia. Seguiu-se a deslocação ao Grande Palácio para assinatura do Livro de Cumprimentos ao Rei e visita guiada ao Palácio e Templo. Nessa noite ainda jantámos, todos os oficiais, com um grupo de oficiais da Escola Naval num restaurante típico da cidade onde assistimos a um show de danças típicas das várias regiões do país e provámos a boa cozinha thai. No final ainda fizemos uma ronda por alguns mercados e bares. Terça-feira a nossa equipa de futebol e respectiva claque foi visitar a Escola Naval e defrontar a equipa local. Perdemos por 3-1. É difícil cumprir com os estágios pré-jogo numa cidade destas. Depois foi o dia da nossa recepção, quase estragada pela chuva, que provocou atrasos na chegada dos convidados. Quarta-feira, fruto da atenção mediática que continuava em força, recebemos 6000 visitas a bordo. Um grupo da guarnição realizou um passeio a Ayutthaya, a convite da nossa embaixada, especialmente dedicado a conhecer a presença portuguesa no local. À chegada a bordo tínhamos vários jornalistas que nos aguardavam para entrevistas que tiveram que ser comprimidas porque nessa noite tínhamos um grande momento: O Embaixador de Portugal, estando em final de missão na Tailândia, aproveitou a nossa presença para oferecer uma grande recepção de despedida, em honra da Sagres, e dos 500 anos. Actuou a nossa fadista Maria Ana Bobone num espectáculo muito bem conseguido na qualidade performativa e na forma didáctica como o Fado foi apresentado e comentado. Encantou! Numa sala de banquetes do Hotel Sheraton, contíguo à embaixada, decorada com lindas flores, imagens da Sagres e com uma grande réplica da barca esculpida em gelo, tiraram-se centenas de fotos e conviveram os Marinheiros, os Diplomatas e Cidadãos nacionais com os distintos convidados do Governo e Instituições tailandesas e do Corpo Diplomático. Devido à chuva a recepção não se pôde realizar nos jardins da antiga feitoria portuguesa, um presente do Rei do Sião a Portugal que é a mais bela e bem localizada e foi a primeira embaixada em Banguecoque, dando um destaque especial ao nosso país relativamente aos demais. O sucesso mediático da estadia veio despertar o interesse antigo da Escola Naval e Marinha em ter um grande veleiro para a formação de cadetes e representação do país e as visitas de alunos e oficiais multiplicaram-se. Os média também pressionaram para sairmos mais tarde pois recebiam inúmeros telefonemas de pessoas que nos queriam visitar. Perante as previsões meteorológicas favoráveis, passámos a largada prevista para as 10:00 de quinta-feira para as 15:00 de forma a percorrer o Rio Chao Phraya ainda de dia. Recebemos ainda várias centenas de visitas e, à hora marcada, tínhamos cerca de 2000 pessoas e vários jornalistas no cais. Após as cerimónias de despedida com banda e autoridades, largámos enquanto caçávamos o pano latino. Navegámos uns minutos para montante, demos a volta, caçámos o pano redondo de tacada e passámos frente ao cais 10 minutos após a largada, já a todo o pano! Tocou a sereia e ouviram-se os aplausos em terra! Estava cumprida a nossa missão em Banguecoque e na Tailândia. E bem cumprida! Ao fim de nove meses de viagem continuamos a receber elogios pela forma entusiasmada e dedicada como a guarnição recebe as visitas, mantém o navio e executa as manobras – é um orgulho! Mas o nosso sucesso em Banguecoque também se fica a dever, em muito, ao excepcional apoio do Embaixador António de Faria e Maya que com uma reduzida equipa e com o apoio da Embaixatriz Maria da Piedade mobilizaram os média e as entidades, organizaram eventos e não deixaram de nos acarinhar com a organização de passeios e de uma fabulosa recepção. Bem hajam! Realçamos também o trabalho de duas tailandesas que orgulhosamente falam um português perfeito: a Pralom Boonrussamee, secretária do Embaixador e a Tassanee Norma, guia turística que interrompeu as suas actividades profissionais para oferecer um prestimoso apoio à nossa estadia. Ambas estudaram português em Banguecoque e ganharam bolsas de estudo em Portugal através do Instituto Camões que está de parabéns pelo seu trabalho neste país. Uma hora depois passámos frente à Escola Naval onde também mostrámos todo o pano e apitámos para os alunos que aguardavam, formados, a nossa passagem. Às 18:00 largámos o piloto e seguimos à vela fazendo médias de 8 a 10 nós. Já tínhamos saudades de velejar assim. O Engº Ribau Esteves, Presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, apoiante desta viagem através do belíssimo Museu Marítimo de Ílhavo e da Associação das Industrias do Bacalhau, que forneceu o acepipe que é servido aos cerca de 5000 convidados das nossas recepções, veio fazer este percurso connosco aproveitando uma deslocação que tinha para estes lados. Desta forma pode apreciar a rentabilização do investimento e recordar um navio onde já navegou como cadete antes de decidir dedicar-se à política. Pelos vistos fez bem pois para ser reeleito 3 vezes é necessário fazer bem. Ílhavo, município onde se situa o Porto de Aveiro, está no circuito dos grandes veleiros e é dos poucos portos do Mundo que os acolhe isentando parte das despesas portuárias. Subiu ao traquete, esteve no lais do gurupés e foi ver o navio de fora. Revisitou o navio e foi comparando a sua configuração e equipamentos actuais com o que tinha em 1984/85. Para nós foi uma oportunidade para privar com um político distinto que nos falou da sua experiência no Poder Local. Tem graça o facto de encontrarmos tantas semelhanças entre o trabalho politico e o nosso trabalho – apesar de o que se torna publico ser sempre o menos bom. Na noite de sábado avistámos muita actividade de trovoadas no horizonte e grandes aguaceiros no radar. De repente o vento mudou e obrigou-nos a guinar mais de 120 graus para bombordo para não ficar com o “pano às costas”. Aguardámos para ver como iria ficar o vento após o aguaceiro mas não havia sinais de mudança e nós estávamos quase virados para trás pelo que fizemos uma faina geral de mastros às 22:00 para carregar e ferrar todo o pano, prosseguido a motor! Foi uma manobra de surpresa e o pessoal correspondeu da melhor forma! Dedicámos o Domingo e o dia de hoje à preparação do navio para a sequência de portos que se aproxima. Singapura-Malaca-Kelang, intervalados por um dia significarão muito trabalho! A atenção aos piratas tem continuado num nível elevado até porque os relatos de roubos continuam a chegar. Na “guerra interna” também temos estado activos a manter os níveis de proficiência no combate a incêndios, alagamentos e na reacção rápida antipirataria. Esta noite entramos no intenso caudal de navios que atravessam o Estreito de Malaca em direcção ao Índico. Atracaremos amanhã às 09:00 numa marina de Singapura. O Cais parece perfeito para a nossa missão que desta vez inclui uma recepção adicional de promoção das indústrias nacionais das madeiras e mobiliário.