sábado, julho 07, 2012











26SET2010 - 250º Dia – Chegada a Jacarta!

A navegação até Jacarta, na ilha de Java, decorreu sem sobressaltos embora sempre sob a influência de grande instabilidade atmosférica. Apesar de nesta altura do ano a Zona de Convergência Intertropical ainda se encontrar lá mais para norte, o tempo que sentimos é muito próprio desta zona de choque das massas de ar dos alíseos de SE do hemisfério Sul contra os alíseos de NE do hemisfério Norte. O vento, sempre dos quadrantes de leste permitiu navegar metade do tempo à vela apesar das variações bruscas de direcção e dos aguaceiros muito frequentes. Com as vergas pelo redondo era só cambar a retranca conforme necessário e íamos mantendo o vento num sector de 60 graus centrado na popa. A fim de apanhar a corrente favorável que se faz sentir ao norte do Mar de Banda, navegámos junto à Ilha de Sulawesi. Na noite de dia 20 atravessámos a barreira de ilhas e ilhéus que separa o Mar de Banda do Mar das Flores mesmo a sul da Ilha Selayar, numa gincana que nos obrigou a várias manobras de velas. Depois atravessámos o canal de acesso ao grande estreito de Makasar que separa o Bornéu de Sulawesi e entrámos no Mar de Java navegando por norte das Ilhas de Bali, Madura e finalmente, ao longo das 500 milhas de extensão da Ilha de Java. Os trabalhos a bordo estavam muito adiantados. O enorme esforço da tirada anterior permitiu um bom alívio nesta tirada no que respeita a vernizes e pinturas. No entanto foi necessário desenvergar Sobres e Joanetes para passajar algumas costuras que apresentam um desgaste elevado. É uma árdua tarefa: desenvergar a vela, arriá-la e abri-la no poço para identificar os trabalhos e depois leva-la para o Paiol do Mestre para ser costurada. Depois voltar a transportar e envergar a vela a 30 metros de altura. Um Joanete da Sagres tem 100 metros quadrados, aproximadamente a área de um apartamento de 3 ou 4 assoalhadas. Ao fim de alguns aguaceiros verificámos que os vernizes que adquirimos no Japão como marítimos e super-resistentes estavam a desgastar-se com os cabos, com a água salgada e com a chuva. O trabalho árduo que fizemos com a motivação de que já aguentaria até Lisboa, afinal durou muito pouco e teremos que voltar a decapar tudo já nas próximas navegações, assim que a meteorologia o permita. Esta é uma viagem de logística complicada porque é impossível transportar todos os consumíveis necessários para um ano e depois ficamos sujeitos aos mercados locais que não conhecemos a fundo. Muito se falou a bordo da visita a Timor. A expectativa era elevada mas os acontecimentos que presenciámos e as pessoas com que travámos conhecimento superaram tudo. Finalmente a Sagres foi a Timor e estes 150 marinheiros portugueses chegaram por mar o que nos soube muito bem e teve um impacto especial nas pessoas. A visita do Almirante CEMA, o culminar de uma fase de preparação da Marinha de Timor com o apoio da nossa Marinha, as altas entidades que estiveram a bordo, os portugueses e timorenses que nos visitaram, tudo constituiu um grande impacto na cidade de Díli e em nós próprios. A cidade, embelezada por este belo veleiro, mostrou o que realmente vai no coração dos timorenses aos que tinham dúvidas sobre a opção da portugalidade. É que muitos dos milhares de estrangeiros que pululam as organizações internacionais que apoiam a organização do país duvidam da bondade da opção pelo português. Díli foi uma das nossas maiores contribuições para a diplomacia portuguesa ao longo desta viagem. A bordo sente-se algum cansaço provocado por mais de 8 meses de viagem. Há quem vá riscando num quadro os dias que faltam, há comemorações dos três meses para o final, há apreensões sobre o futuro dos que terminam a sua comissão na Sagres, etc. Mas também há uma enorme vontade de continuar a cumprir a nossa missão como até aqui e fazer rentabilizar ao máximo o grande investimento que a Marinha, o País, nós próprios e as nossas famílias estamos a fazer nesta viagem. No final só terá o sabor da vitória se correr tudo bem e se tiver havido um impacto positivo nos países visitados. Apesar de termos pressa em completar a volta, também temos o enorme desejo de marinheiros e viajantes de visitar Banguecoque, Singapura, Malaca, Goa, etc. Ontem passámos a noite a navegar ao longo de um imenso campo de petróleo e gás, pejado de plataformas que não nos permitiram aproximar da costa para apreciar a paisagem. A somar a isto estiveram os aguaceiros que tornaram este Sábado num dia pouco interessante. Tanjungpriok é uma pequena cidade que faz parte da grande Jacarta e onde fica o porto comercial que serve a área metropolitana de 18 milhões de habitantes. O porto é enorme e ainda assim, toda a baía de Jacarta está pejada de navios fundeados ou em trânsito. É uma baía com muitos perigos para a navegação, muitos baixos, navios afundados, armações de pesca, embarcações, etc. De tal forma que a nossa aproximação começou a ter stress logo às cinco da manhã e até que atracámos às 10:00 de bordo, 09:00 locais. A entrada entre-molhes só aconteceu na última meia hora e, com todo o pano latino, fizemos as curvas que nos levaram ao cais que nos estava destinado e atracámos com a ajuda de um rebocador que à popa nos travou e encaixou no espaço disponível. Aguardava-nos uma comitiva de oficiais da Marinha Indonésia, a sua Banda e o Embaixador de Portugal, Carlos Leitão Frota com os quadros da Embaixada e alguns amigos. Tocou a banda, atracámos, descemos ao cais, recebemos o colar de flores e trocámos saudações. De uma tenda com sofás instalada para o efeito, assistimos à actuação de um grupo de dança típica de Báli. Depois mostrámos o navio aos nossos anfitriões e recebemos os jornalistas que vieram assistir á nossa chegada. Como não tencionávamos utilizar pano redondo à chegada pela pouca visibilidade que teria e pela exiguidade do porto, já trazíamos as vergas na posição de porto e a iluminação de gala instalada. Mas a manhã foi dura pela faina de desembarque de lixo a que se seguiu o embarque de mantimentos para levar a nossa autonomia outra vez a tope. Logo à tarde teremos uma recepção na residência do Embaixador de Portugal e amanhã é o nosso grande dia com visitas de cumprimentos protocolares, almoço VIP e recepção oficial. Depois contamos! Até breve! por:

Pedro Proença Mendes, Cte do NRP "Sagres" Tags: Navegando com a Sagres,Fotos,Itinerário da viagem,Diário de Bordo