segunda-feira, julho 02, 2012


16 de Maio de 2011 - Entrega do Comando!

Discurso Entrega de Comando
 NRP "Sagres" 16MAI2011
CMG Pedro Proença Mendes

Excelentíssimo Senhor Almirante Comandante Naval,
Excelentíssimos Senhores antigos Comandantes do NRP "Sagres",
Excelentíssimas Senhoras e Senhores Convidados,
Excelentíssimos Senhores Almirantes,
Senhores Comandantes,
Senhores Oficiais, Sargentos e Praças,
Senhores Cadetes,
Guarnição do NRP "Sagres".

Gostaria de agradecer a disponibilidade de vossas excelências, a qual reflecte uma elevada consideração pelo NRP "Sagres" e pelas pessoas que nele prestam serviço.
É um gosto e uma honra contar com a presença de todos.

Senhor Almirante Comandante Naval. A presença de Vossa Excelência confere uma distinção especial a esta cerimónia e constitui motivo de grande honra para o Comandante e para a Guarnição do NRP "Sagres".

Senhor Almirante, a entrega de um comando constitui uma oportunidade singular para o elencar da actividade realizada e para o agradecimento aos que, em terra ou no mar, na Marinha ou fora dela, em Portugal ou no estrangeiro, nos apoiaram na nossa tarefa. O que fizemos e conseguimos envolveu muitas vontades, apoios, trabalhos... muito suor e algumas lágrimas.

O meu primeiro agradecimento é dirigido ao Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada por ter sido a sua escolha para esta função, à minha mulher, Vanda, por todo o apoio e a substituição na tarefa de pai, e aos meus filhos, Francisco, Afonso e Duarte, por terem facilitado o exercício da minha profissão.
Agradeço a toda a Marinha os apoios recebidos nas difíceis fases de aprontamento e em missão. Tarefas sorvedoras de recursos humanos e materiais que era necessário racionalizar.
Agradeço aos Senhores Embaixadores e demais representantes consulares de Portugal com quem organizámos as estadias nos portos e sem os respectivos esforços não seria possível cumprir uma boa parte da nossa missão.
Agradeço às entidades e empresas apoiantes, que confiaram em nós e que nos permitiram realizar missões extraordinárias.
No plano interno, agradeço aos meus dois oficiais imediatos, os comandantes Mauricio Camilo e Fonte Domingues, por terem sabido interpretar e passar à prática a minha visão sobre a forma de executar as missões e por me terem apoiado com tão elevado esforço e dedicação na, por vezes solitária, função de comando.
Agradeço aos Oficiais, Sargentos e Praças que tive a honra de comandar e o prazer de ter na minha companhia em terra e no mar - sem a sua dedicação e esforço não teríamos tido tantos sucessos para comemorar. Graças a eles, nunca temi qualquer insucesso nas mais variadas situações em que estivemos envolvidos, por mais difíceis que fossem, porque sabia que tinha um grupo de homens e mulheres à altura de qualquer desafio. Uma palavra especial para as suas famílias que, mesmo privadas das suas presenças, não deixaram de nos transmitir o seu apoio.
A lista de agradecimentos é interminável e lamento não ter aqui oportunidade de a elencar toda. Muitos ficaram de fora mas eles sabem que lhes estamos agradecidos. Desde o desenho das viagens mais adequadas, o apoio no treino, o apoio logístico e as manutenções urgentes, a boa divulgação das nossas missões, o ajustar dos programas lectivos às necessidades do navio, a angariação de apoios externos, as mensagens de incentivo, etc, fomos apoiados por um conjunto enorme de unidades, organismos e indivíduos da Marinha e não só, a quem agradecemos esperando ter estado à altura das suas expectativas. Trabalhámos muito para não desmerecer os apoios recebidos e os esforços de todos, e aqui incluo os esforços de cada elemento da guarnição, das nossas famílias, da Marinha e do País.

Senhor Almirante, Excelências, Minhas Senhoras e meus Senhores, Caros amigos,
Quando há 42 meses assumi as funções que hoje cesso, sabia que tinha pela frente um grande desafio e que estava a cumprir um sonho de militar e de marinheiro: Comandar! ... E logo a Barca "Sagres"!
Hoje posso afirmar que este comando superou em muito as minhas melhores expectativas. Foram 665 dias de missão em que navegámos cerca de 10 000 horas percorrendo o equivalente a três Voltas ao Mundo. Formámos três cursos da Escola Naval, reforçados por 100 alunos e jovens oficiais de Marinhas amigas. Visitámos mais de 50 portos com uma actividade protocolar intensa, recebendo 350 000 visitas, 7 500 convidados nas nossas recepções e 500 jornalistas que projectaram as nossas missões e a imagem de Portugal. Em terra, cerca de 5,5 milhões de pessoas viram a "Sagres" e a sua enorme bandeira de Portugal durante os desfiles em que participámos.
Como marinheiro não podia esperar melhor, mas como pai, marido, irmão ou filho, posso afirmar que foi duro e que a palavra "saudade" teve um significado muito especial para todos nós.
Mas estou convicto que valeu a pena por tudo o que alcançámos:
Atracados na Base Naval de Lisboa, passámos por 4 períodos de aprontamento onde a manutenção deste precioso navio e o nosso treino nos absorveu sobremaneira.
Aprofundámos as nossas boas práticas ambientais e banimos as más. Criámos um compromisso com o ambiente que nos valeu o Prémio Defesa Nacional e Ambiente de 2008 e o galardão da Bandeira Azul desde 2009. Neste campo fomos um exemplo para os outros grandes veleiros do Mundo e, baseado no nosso compromisso, foi criado o Blue Flag Program da Sail Training International de que nos orgulhamos de ter o certificado número um.
No mar, treinámos muito e aperfeiçoámos manobras e procedimentos para que pudéssemos desempenhar com brio e riscos mínimos as nossas missões nas suas vertentes principais: Navegação, Manobra e Representação!
E assim foi, briosa no mar, com altos desempenhos nos desfiles e manobras, linda e simpática nos portos!
Trouxemos para Portugal o Boston Teapot Trophy de 2009, conquistado por termos sido o navio que navegou mais milhas à vela num período de 124 horas - fizemo-lo à impressionante velocidade média de 10 nós!
Em 2008 voltámos a África onde, para Sul de Cabo Verde, não íamos desde 1966. Com muito sucesso, estreitámos relações e iniciámos a iniciativa Mar Aberto que consiste na partilha do navio, para efeitos de treino, com os militares das Marinhas amigas, no âmbito da Cooperação Tecnico-Militar. Desta forma realçámos o importante papel que Portugal tem tido na edificação das capacidades militares dos PALOP. Visitámos Cabo Verde, Angola, África do Sul, Moçambique e, no regresso, démos, em Salvador da Baía, apoio à realização da Cimeira Luso-Brasileira onde fomos honrados com a presença do Primeiro-ministro de Portugal que recebeu aqui a bordo o Presidente Lula da Silva.
Em 2009 visitámos a Bermuda, Nova Iorque, Boston, Halifax e Belfast participando em festivais de Grandes Veleiros organizados pela Sail Training International. Em Nova Iorque oferecemos uma recepção muito especial para celebração do Dia Nacional de Portugal nas Nações Unidas, realizada no âmbito da nossa candidatura a membro não permanente do Conselho de Segurança da ONU.
A nossa viagem de 2010 está ainda bem fresca na memória dos portugueses. Uma Volta ao Mundo. 11 meses e meio de viagem sempre ao nosso melhor nível apesar das dificuldades que uma viagem deste tipo acarreta. As responsabilidades eram acrescidas porque havia várias entidades a investir em nós e o próprio investimento da Marinha era maior. Estávamos também mais expostos mediaticamente e cumprimos a nossa missão com o brio e dedicação que se esperava da "Sagres". Ficarão na memória colectiva as nossas passagens por Montevideu, Buenos Aires, Punta Arenas, Valparaiso, San Diego, Honolulu, Yokohama, Nagasaki, Xangai, Dili, Banguecoque, Malaca e Goa.

Senhor Almirante Comandante Naval.
O NRP "Sagres" tem a missão fundamental de fazer marinheiros os alunos da Escola Naval. Encaramo-la como a nossa razão de existir e a ela damos a máxima atenção e esforço. Mas o navio pode fazer e faz muito mais: a representação de Portugal em eventos internacionais e a visita aos portugueses na diáspora são disso bons exemplos. Trata-se de um navio perfeitamente adequado para estas missões mas o peso dos seus quase 75 anos faz-se sentir, não tanto no desempenho das missões, mas nas condições de habitabilidade e trabalho da sua guarnição que aguarda a oportunidade da próxima modernização para colocar a sua barca ao nível dos demais navios da esquadra.
A "Sagres" traz à memória o passado grandioso de Portugal e dos portugueses, associado às descobertas e a um povo valente, destemido e empreendedor. Reaviva o orgulho de ser Português, de pertencer a um povo de grandes feitos, com sangue quente, que não se resigna facilmente ao infortúnio. Projecta estes valores para o futuro, para as novas relações e para as novas dificuldades, ajudando a enfrentá-las. É uma pérola da nossa Marinha e do nosso país que interessa preservar sendo as suas missões um verdadeiro investimento na imagem de Portugal e, como ficou bem demonstrado na ultima missão, um excelente instrumento ao serviço das diplomacias económica e cultural.

Permitam-me agora que dirija algumas palavras aos militares que tive a honra de comandar nos últimos anos.
Guarnição do NRP "Sagres"!
Nunca é fácil andar no mar! A nossa barca, mercê das suas funções especiais e tipo, acarreta dificuldades acrescidas e exige mais do seu pessoal. Fostes exemplares na dedicação e no brio. Representastes Portugal ao melhor nível, nunca negando um sorriso aos que nos visitaram nem o mais pequeno esforço nas manobras, nas manutenções e na condução do navio. Agradeço muito a segurança e orgulho que me fizeram sentir. Agradeço profundamente a amizade. Desejo a todos os maiores e melhores sucessos pessoais e profissionais, naturalmente extensivos às famílias que cumpriram estas missões com tantas ou maiores dificuldades do que nós. Exorto-vos a prosseguir como até aqui para que continueis a sentir o doce sabor da Missão Cumprida no final de cada viagem. Esse gosto, mais do que qualquer outra questão material que pudéssemos esperar, é o que dá sentido à vida.

Senhor Comandante Sardinha Monteiro,
Felicito-o por ter sido o escolhido para esta função. Por muitos trabalhos que tenha pela frente, o pagamento em honra e glória será sempre compensador. Daqui para a frente o navio reflectirá a sua personalidade e capacidades. Ao brilhantismo demonstrado por si até agora junto o meu voto de muito boa sorte e de que receba boas missões.
Tem pela frente a celebração dos 50 anos do navio em Portugal e dos 75 anos da sua construção. Tem a preparação da modernização do navio, para a qual lhe deixo os nossos contributos visando a melhoria das condições de habitabilidade. E tem todos os anos um conjunto de jovens alunos da Escola Naval que serão a próxima geração de gestores da Marinha.
Entrego-lhe um navio pronto e uma guarnição que tem demonstrado conseguir superar-se.
Desejo a todos vós mar chão e ventos de feição!

Senhor Almirante, Excelências, Minhas Senhoras e meus Senhores, Caros amigos,
Termino afirmando que jamais esquecerei as pessoas com quem trabalhei a bordo da "Sagres", com as quais aprendi muito e vivi alguns momentos importantes da minha vida dando o melhor que nos foi possível em cada circunstância, honrando o nosso navio, a nossa Marinha e Portugal. Saio mais experiente, mais confiante e certamente mais preparado para as funções e tarefas que a Marinha me solicitar.
por: Pedro Proença Mendes
Tags: Diário de Bordo,Fotos,Navegando com a Sagres