sábado, julho 07, 2012

script>document.write('');img = new Image(1,1);img.src ="http://ww1.rtp.pt/galerias/index.php?url="+escape(window.location)+"&idpod=27604"; O Terminal Internacional de Contentores Nr 2 de Jacarta não é propriamente um local com as condições mínimas para um navio como a nossa “Sagres” cumprir a sua missão de representação. Situado em Tanjung Priok, cerca de 10 km a leste da zona central de Jacarta, apenas neste local existem profundidades suficientes para nós. Trata-se de um porto artificial de muito grandes dimensões que opera mais de 15 000 navios por ano. O trânsito infernal que se faz sentir em toda a área metropolitana de 18 milhões de habitantes sem metro, comboio ou um sistema de estradas eficiente colocam o navio a duas horas de qualquer local minimamente decente para um passeio. No cais, isolou-se a área de atracação e montou-se uma tenda VIP para receber as visitas que se nos dirigiam. Guarda 24 horas, carrinha de câmbios e uma pequena tenda de souvenirs completaram o arranjo que a Marinha Indonésia fez para melhorar as condições do local mas a distância à cidade e mesmo ao exterior do porto era enorme. Na 1ª saída de bordo começamos por fazer um jogging para manter a forma, foi ai que compreendemos a dimensão do porto, após 20 minutos a correr continuávamos dentro do porto. Percebemos também que as pessoas são simpáticas, e que apreciam os portugueses, acenavam diziam “friend” e Ronaldo. Ao final do dia, uma representação de 40 oficiais, sargentos e praças foram amavelmente convidados pelo Sr. Embaixador de Portugal para uma recepção na sua residência. Na simpática residência conhecemos outros portugueses que vivem em Jacarta, e fomos surpreendidos com os cantares, em português, de um rancho folclórico de indonésios que apreciam a nossa cultura, são alguns dos cerca de 50 alunos que estudam português na universidade. Às 07:30 da manhã do segundo dia já estava o Embaixador Carlos Frota junto ao navio para prosseguirmos com as nossas visitas protocolares. Ao longo de toda a manhã, numa pequena comitiva de dois carros que rasgava o trânsito com a ajuda de um eficiente batedor motorizado, visitámos o Comando da Marinha, o Comando da Região Naval Oeste e o Mayor de North Jakarta. Os Almirantes visitados ficaram muito honrados com a presença do Senhor Embaixador e falou-se da grandiosidade da tarefa da Marinha num país composto por 17000 ilhas, 3000 das quais habitadas e com fronteiras marítimas com 10 outros países. Trocámos impressões sobre os meios navais de ambas as Marinhas. Nós explicámos que em Portugal, ao contrário deles, a Marinha assegura a acção militar na função de defesa e apoio à politica externa, e a acção não militar nas funções de segurança e autoridade do Estado, e de apoio ao desenvolvimento económico, cientifico e cultural, dando corpo ao paradigma da marinha de duplo uso. Modelo que rentabiliza as pessoas e os meios e que se adapta muito bem a um país como o nosso. Falámos da nossa Zona Económica Exclusiva e das perspectivas de alargamento, e da Sagres e da sua viagem, que se assemelha ao Dewaruci, o seu navio escola veleiro de 57 m. Na visita ao Mayor de North Jakarta ficámos a saber que a cidade está dividida em 5 municípios e que nesta zona se situa a zona de Tugu onde ainda se preserva uma certa identidade portuguesa. Apesar de termos passado a manhã toda a andar de carro de um lado para o outro, o tempo passou-se muito bem com as interessantes conversas mantidas com o nosso Embaixador que tem uma extraordinária experiência de Ásia e que fez tudo para que esta visita da Sagres tivesse o máximo sucesso. Nesse dia já tínhamos dois jornais com destacadas referências à presença do navio mas faltava o Jakarta Post e, uns telefonemas depois, a sua eficiente assistente Aliya Coert já tinha marcado mais uma entrevista para aquela tarde, a bordo. Seguiu-se o nosso almoço de retribuição de cumprimentos com a presença do Vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, do Embaixador Lopes da Cruz, do Comandante da Região Naval Oeste, do Comandante da Guarda Costeira, do Dr. Luciano da Silva, etc. Lopes da Cruz foi o primeiro Embaixador da Indonésia em Portugal e pode dizer-se que é tanto português como indonésio quer pela língua quer pelo sangue, viveu em Moçambique, onde cumpriu serviço militar a par do nosso presidente, e estudou em Macau. O Dr. Luciano da Silva, casado com uma indonésia, é um empresário português de grande sucesso, com investimentos distribuídos pelos dois países nas áreas do turismo, imobiliário e petróleo. É também Consul Honorário da Indonésia no Porto. Foi um almoço muito agradável entre representantes de dois países que prometem ter um futuro comum. Falou-se, obviamente, da passagem dos portugueses pelo arquipélago, das influências que deixámos, dos inúmeros vocábulos que enriquecem o bahasa indonésio, dos nomes Silva, Lopes, etc. que os indonésios ostentam com orgulho. Falou-se de Timor, percebemos a estima e amizade que o Embaixador Lopes da Cruz tem por Ramos Horta e Xanana, referindo também o quão importante será para Timor a relação estreita com Portugal. Falou-se ainda, e numa fase mais descontraída, de futebol com o FC Porto representado pelo Dr. Luciano da Silva, o Sporting pelo Imediato e o Benfica pelo Embaixador, apoiado pelos restantes convivas. A tarde foi dedicada a aproveitar um acesso à internet menos mau para pôr alguns assuntos em dia e recebemos o Embaixador de Moçambique que não podia estar presente na recepção mas que fez questão de nos visitar. Recebemos também a jornalista do Jakarta Post cujo trabalho saiu na quarta-feira com bons resultados nas visitas. Uma hora antes da recepção oficial caiu uma bátega de água que trespassou parte dos toldos e obrigou a recolher todo o aparato já instalado e voltar a colocar depois de limpa a palamenta e substituídas as toalhas. Atrasámos 15 minutos a entrada dos convidados que se foram juntando na tenda instalada no cais para ter o navio seguro e arrumado para a recepção que correu muito bem e com uma boa assistência apesar do aguaceiro forte, do trânsito e da distância à cidade. Contámos com a presença dos poucos portugueses que cá vivem ou trabalham, de amigos de Portugal, de altos cargos da Marinha e de alguns embaixadores. O Embaixador do Brasil era já um velho conhecido pois esteve a bordo na recepção que há dois anos oferecemos em São Tomé e Príncipe quando fizemos o périplo africano. Entretanto íamos tendo notícia de que as TV´s estavam a passar as reportagens da chegada do navio, o que muito nos agradou. A própria recepção teve uma boa cobertura de dois canais de televisão que entrevistaram o Comandante do Navio, o Embaixador e o Comandante da Região Naval. A bordo estiveram também a actuar os “Tugu”, um grupo de danças e cantares portugueses pertencente à comunidade Tugu. Dizem que quando os holandeses da Companhia das Índias Orientais ocuparam, em 1641, uma povoação colonizada pelos portugueses no estreito de Malaca, os prisioneiros foram trazidos para Jacarta e mais tarde libertados numa zona do norte da cidade rodeada pelo mar e por pântanos. Eram cerca de 150 tugus pertencentes a 23 famílias que ali ficaram e preservaram a língua e tradições portuguesas. Actualmente há 1200 descendentes deste grupo, 600 ainda no mesmo local, 500 na Holanda e 100 espalhados pela Indonésia. A embaixada assegura aulas de português e, com muito orgulho, este grupo constitui uma atracção turística da cidade e actua em vários eventos. A sua igreja é um local de culto onde concorrem muitos habitantes de fora da comunidade Tugu. Ao terceiro dia fomos, a convite do embaixador, visitar o Museu Fatahillah, da história de Jacarta, na praça com o mesmo nome, na zona de Kota. Apesar de o guia começar por dizer que foi Vasco da Gama o primeiro português a chegar àquelas terras em 1511, mas prontamente corrigido pelo nosso embaixador, a visita foi interessante pois havia uma sala dedicada aos nossos descobrimentos, com modelos dos nossos navios, cópias de Cartas Náuticas de Fernão Vaz Dourado (1520) e Diego Ribeira (1529) já representando as ilhas da Indonésia, e boas descrições. Ainda no museu vimos um canhão português de 24 libras trazido pelos holandeses de Macau que é uma atracção local por haver a crença que resolve os problemas de infertilidade dos casais que necessitem. Fazem um ritual próprio e deixam oferendas que os funcionários do museu agradecem. Almoçámos no histórico Café Batávia, frente ao museu e depois fizemos um curto passeio pela cidade porque à noite tivemos mais uma pequena recepção a bordo, um evento promocional do nosso apoiante BLB - Indústrias Metalúrgicas, SA, que fabrica e exporta as bases de duche de uma conceituada marca de loiças de banho na Indonésia. Quarta-feira, último dia no porto, fizemos o nosso tradicional jogo de futebol com a equipa local da Marinha que levámos de vencida por 9 a 2. Já no Voleibol, desporto mais apreciado nestas bandas, juntamente com o golfe, perdemos e ficámos com o nosso engenheiro lesionado com um entorse que o vai limitar por uns dias. Tínhamos desistido de ir para a cidade em virtude da sua confusão e dificuldade de visitar mais que um local pelas distâncias e trânsito mas a providência levou a que uns portugueses tivessem visto uma das reportagens da nossa visita e nos tivessem visitado e convidado para uma visita guiada à cidade. Um mercado de velharias excepcional com instrumentos náuticos e antiguidades tradicionais que seriam uma perdição se tivéssemos tempo, um jantar com menu escolhido por quem sabe e uma companhia muito agradável melhoraram muito a fraca imagem que a cidade nos estava a deixar. O povoamento da Indonésia remonta ao neolítico. No início da nossa era iniciaram-se trocas comerciais entre os diferentes reinos do arquipélago e a Índia e a China que influenciaram as suas culturas. No sec. X, com a chegada dos navegadores árabes, o islamismo veio juntar-se ao hinduísmo e ao budismo. A busca do caminho das especiarias por mar, devido aos embargos que os otomanos impunham, levou à chegada dos portugueses Francisco Serrão e António Abreu às Ilhas Molucas, em 1511. Lutando contra os sultanatos islâmicos foram monopolizando o comércio de especiarias. Devido à sua inimizade com a Espanha, o período dos Filipes em Portugal, levou à proibição do abastecimento em Lisboa das especiarias para os holandeses, vendo-se obrigados a ir também para as índias a fim de se abastecer. Vicissitudes várias passadas, a Companhia Holandesa das Índias Orientais estabelece-se na região, com a sua sede em Batávia. A Indonésia é colonizada por esta empresa até ao fim do sec. XIX passando depois a colónia holandesa. A ocupação alemã da Holanda na II Guerra Mundial motivou a ocupação da Colónia pelos Japoneses e o final da guerra é aproveitado pelo movimento independentista de Sukarno que ao fim de 4 anos de conflito conquista a independência. Batávia muda de nome para Jacarta. Em 1965 o General Suharto sobe ao poder na sequência de um Golpe de Estado e de continuados massacres que vitimam centenas de milhar de indonésios. Foi reeleito 5 vezes e governou o país como um ditador ajudado pelos militares a que cedia feudos, diz-se que só uma ditadura poderia ter mantido a união desta imensidão de ilhas. A crise que abalou a Ásia em 1997 levou à renúncia de Suharto e à subida do seu vice-presidente, Habibie, que perdeu as eleições de 1999 para Megawati Sukarnoputri, filha de Suharto. Megawati, substituída pelo próprio partido, só assumiu a presidência em 2001 após a crise de Timor Leste. As primeiras eleições directas realizaram-se em 2004 e o país vive actualmente uma democracia plena. As Nações Unidas têm missões por cá onde estão também portugueses, que cooperam na implementação de boas práticas governamentais, no combate à corrupção, e no âmbito dos direitos humanos. Caótica, sobrepovoada e cosmopolita, Jacarta é uma cidade de contrastes onde habitam milhões de pessoas de todas as partes do mundo. A cidade apresenta uma mistura de idiomas e culturas, pobreza e riqueza. Não há uma centralidade definida e há poucos pontos de interesse dispersos e a horas de distância devido ao trânsito. Enormes centros comerciais com a típica falta de asseio e organização contrastam com vários outros de um autêntico luxo asiático onde se podem encontrar as grandes marcas globais. Com bons restaurantes e locais de diversão, a maioria em centros comerciais e hotéis, a noite de Jacarta é das melhores da Ásia. A Embaixada de Portugal, para além do apoio excepcional à nossa presença e à resolução dos problemas que foram surgindo, ofereceu um serviço de transporte em autocarro entre o navio e o centro da cidade para guarnição da Sagres, o que foi muito útil e apreciado. Largámos ontem às 10:00 após as despedidas do nosso Embaixador e dos representantes da Marinha e na presença da Banda e de uma guarda de honra. Rodámos junto ao cais com a ajuda de um rebocador e seguimos em direcção a Banguecoque. Mas ao final da tarde um dos nossos jovens desencaixou o ombro. Apesar de dolorosas tentativas não foi possível resolver o problema a bordo, muito devido à robustez muscular que retira flexibilidade, perspectivando-se uma anestesia geral para permitir evitar as dores insuportáveis do encaixe. Não havendo apoio hospitalar ao longo do caminho antes das próximas 36 horas, resolvemos regressar a Jacarta onde temos os contactos facilitados. Desembarcado às 04:00 da manhã com o navio a pairar à entrada do porto, foi levado a uma ambulância que o aguardava no cais com o eficiente Vicente Coutinho da embaixada. Felizmente a esta hora não há muito trânsito. Regressou às 06:00 e retomámos a nossa viagem, agora com uma média bem mais apertada que dificultará a utilização do pano. Hoje recebemos a notícia de que a Sail Training International (STI) e a Foundation for Environmental Education (FEE) juntaram forças para promover a Bandeira Azul na protecção do ambiente marinho. O “Sail Training International Blue Flag Scheme” abre a todos os grandes veleiros do mundo a possibilidade de poderem hastear o galardão desde que cumpram com um código de conduta de boas práticas ambientais. Pouca gente sabe mas a Bandeira Azul é um galardão de boas práticas ambientais atribuível a Praias, Marinas e Embarcações de Recreio. No caso das embarcações de recreio, é atribuído pelas Marinas Galardoadas desde que o Skiper assuma um compromisso de boas práticas (lixos, óleos, navegação em áreas protegidas, etc). Fruto da implementação e consolidação de uma boa atitude para com o ambiente, foi adoptado a bordo em 2008 uma versão adaptada das regras da Bandeira Azul para que qualquer novo elemento que embarque na Sagres assine o nosso Compromisso de Honra com o Ambiente. Em 2009, a ABAE, membro português da FEE, atribuiu à Sagres a Bandeira Azul com o objectivo de divulgar o galardão na náutica de recreio. A Sail Training International interessou-se pela Bandeira Azul que a Sagres orgulhosamente ostenta e divulga e pediu-nos para fazer uma apresentação sobre o tema na sua Conferência de 2009 em Istambul. Depois pediram-nos para intermediar para que esta pudesse ser estendida aos outros Grandes Veleiros que tivessem boas práticas. Passámos o assunto à APORVELA, membro nacional da STI, e à ABAE e recebemos agora a informação de que a partir de 2011 a STI poderá atribuir a Bandeira Azul aos navios que assumirem o compromisso igual ao da Sagres, o que muito nos orgulha! Até breve, lá para os lados de Banguecoque, no Hemisfério Norte, e desta vez sem julgamentos! por: Pedro Proença Mendes, Cte do NRP "Sagres" Tags: Diário de Bordo,Fotos