sábado, outubro 27, 2012

Pesca do Bacalhau

A pesca do “fiel amigo” sempre foi difícil e longínqua, nos “bancos” da Gronelândia perto da Terra Nova e Labrador, no extremo leste do Canadá. É aliás nesta ilha que se situa o porto de St. John’s onde os bacalhoeiros faziam escala para abastecimentos, reparações, assistência a doentes, etc. Ou seja acima de tudo um porto de apoio logístico e de “civilização” nesses mares gelados e longíquos de Portugal. A frota bacalhoeira foi assistida pelos navios-hospital “Gil Eanes” (ver post de 19/05/2010).
Em 1930, o lugre "Santa Mafalda" da Empresa de Pesca de Aveiro (E.P.A.) zarpa a pescar nas costas da Gronelândia e daí em diante a pesca bacalhoeira passa a exercer-se tanto na Terra Nova como em outros novos pesqueiros, e não tarda o advento do motor para manobra dos ferros e a turbina, em 1933, para locomover os lugres.
Nesta foto o lugre “Aviz” no rio Tejo nos anos 40. O nome em grandes dimensões e a bandeira portuguesa na proa, eram colocados em evidência por prudência nas viagens no  Atlântico por causa dos ataques dos submarinos alemães na II Guerra Mundial, sendo nós um país neutro. Mesmo assim de vez em quando …. tanto bacalhoeiros como cargueiros portugueses eram atacados …
                             
Foto in: Caxinas de Lugar a Freguesia

Em 1932 fazem parte da frota bacalhoeira onze lugres, com 2822 toneladas de arqueadura total, os barcos utilizados na pesca do bacalhau, mas em 1939 esse número cresce para dezanove com 8075 toneladas de arqueadura.
                             Após a Benção religiosa dos Bacalhoeiros frente á Torre de Belém…
                             

…a jornada de 6 meses começava na viagem de Lisboa até à Terra Nova, porto de St. John’s 1ª escala … Na foto da direita a procissão comemorativa dos 100 anos Basílica de St. John’s
       
Após a chegada aos “bancos”, as tripulações ancoravam os seus barcos em locais favoráveis e lançavam os dóris à água. Estes pequenos barcos levavam 1 pescador, o qual pescava ao bacalhau usando linhas de mão, rileys e linhas de trol. Os pescadores a bordo dos “dóris” abandonavam a embarcação-mãe todas as manhãs, remavam até vários leitos de pesca e regressavam ao navio durante o dia para descarregar a apanha. Também limpavam o peixe, escalavam e salgavam.
Os pescadores que pescavam nos “bancos” faziam face a numerosos perigos. Temporais e tempo mau ameaçavam as escunas e outras embarcações dos Bancos, enquanto os tripulantes dos dóris se arriscavam a perder-se nos nevoeiros e temporais. Se caíam à água era morte quase certa pelas águas atingirem temperaturas “geladas” e o coração não aguentar o choque.
                   O preparar das linhas e apetrechos                                   O regresso do “dóri” com o bacalhau …
          
                                                                                                       
                                         … Chegados ao navio-mãe era descarregado o “dóri”
                             
            

De seguida o merecido descanso e “reabastecimento” da tripulação …. a preparar a faina de regresso …  (foto ao lado)
                                 
            

Todas as fotos a bordo do bacalhoeiro “Ilhavense II” , foram tiradas pelo meu falecido pai, que nos final dos anos 30 andou nestas lides. Fez 3 viagens e depois ingressou como piloto na Marinha Mercante chegando mais tarde a imediato tendo feito a sua carreira praticamente toda durante a 2ª Guerra Mundial. Alguns navios em que andou fizeram parte dos conhecidos “combóios” do Atlântico nas carreira para os EUA. Fez também “carreiras” para África.
Permitam-me que, em tom de homenagem a ele (e extensível a todos os pescadores da pesca do bacalhau), post uma foto dele à época de 1939 (barba crescida na 2ª viagem, por causa do frio…). Na foto ao lado o último lugre que ele efectou a última viagem de pesca do bacalhau, já em 1940 … o “ Ilhavense II “ pertencente à “EPA - Empresa de Pescas de Aveiro”.
                     
                                                                                                  Foto in: Navios e Navegadores

O “Ilhavense Segundo” foi construído em 1918 na Gafanha da Nazaré, por Manuel Maria Bolais Mónica ( o mesmo que construiu a Nau “Portugal” referenciada no post de 31/05/2010) . O primeiro nome deste lugre em madeira foi “Atlas”, e o seu armador a Parceria Marítima Esperança. Em 1921 passa a chamar-se “Ilhavense Segundo” e em 1937 é-lhe instalado um motor. Terminaria os seus dias a 15 de Agosto de 1955, depois de deflagrar um incêndio a bordo, em pleno mar, salvando-se felizmente toda a tripulação.
                 Um aspecto dum bacalhoeiro já a motor e sem velas, em finais dos anos 40, o “António Coutinho”
                                    
                                                            Navio já dos nossos dias, o “Santo André”