segunda-feira, outubro 15, 2012

Teatro da Trindade

O "Teatro da Trindade" foi inaugurado em 30 de Novembro de 1867, pela "Sociedade do Teatro da Trindade", cujo director era Francisco Palha e associado aos capitães Francisco e Fortunato Chamiço, Duque de Palmela, Frederico Biester, Oliveira Machado, Freitas Guimarães, Ribeiro da Cunha, António Thomaz Pacheco, entre outros. O nome provem de um antiquíssimo Convento da Trindade, erguido no logradouro que então era arrabalde da cidade. Resistiu ao terramoto, mas de 1735 a 1739 já funcionou, nos Palácios contíguos, de que há ainda vestígios, uma "Academia da Trindade", o primeiro teatro popular de ópera dirigido pelo italiano Alexandre Paghetti.
                                        1867                                                                                 1911
   
                                               Publicidade á peça "A Moura de Silves" em 1891
                     
                                                                                1909
                     
O projecto do "Teatro da Trindade" foi da autoria do arquitecto Miguel Evaristo de Lima Pinto. De assinalar o belo frontão da sala, da autoria de Leopoldo de Almeida, colocado nos anos 30 do século passado e os 12 medalhões do tecto, representando dramaturgos, segundo projecto de José Procópio, discípulo dos grandes cenógrafos Rambois e Cinatti.
                      
 
                                                               
                        
O espectáculo de abertura foi o drama em 5 actos, "A Mãe dos Pobres", original de Ernesto Biester. Foi nesta peça que o actor Taborda, nas suas memórias, lembra que «a primeira voz que se ouviu neste teatro foi a minha». Foi também exibida na inauguração, e a comédia num único acto "O Xerez da Viscondessa", tradução de Francisco Palha.
Em anexo ao "Teatro da Trindade" foi construído o "Salão da Trindade" para receber bailes, concertos e conferências.
                                                                Entrada do "Salão da Trindade"
                         
                      Sala do "Salão da Trindade" e Poster em 1881 da autoria de Rafael Bordallo Pinheiro
 
                                                                                   1908
                        
A lotação do "Teatro da Trindade" é de 737 lugares. Em 1921 foi comprado pela "APT - Anglo Portuguese Telephone Company", que demoliu o Salão Trindade. Mais tarde foi adquirido em 1923 pelo empresário José Loureiro que o restaurou em três meses e reabriu em 5 de Fevereiro de 1924, com a peça de Eduardo Schwalbach "Fogo Sagrado".
Edifício da APT contíguo ao Teatro da Trindade, e descarga do material para o sistema automático de telefone (1930)
                                     
                                                                                    1923
                         
                                                                    5 de Fevereiro de 1924
                                    
Privado do grande salão de baile, vendido e demolido em 1926, o "Teatro da Trindade" representa um modelo arquitectónico de Teatros oitocentista à italiana, que resisitiu à especulação imobiliária, às novas centralidades urbanas e até à menor adequação da estrutura de camarotes à exploração cinematográfica: pelo contrário – o cinema é exibido pela primeira vez no Trindade em 1913 e nos anos 30 e 40 do século XX, sob a designação de "Cine-Teatro da Trindade", depois ser equipado com um moderno sistema de projecção de cinema em 1938, torna-o também numa sala de cinema. Assistiu-se lá a um certo surto de estreias de filmes portugueses, com destaque para o excelente “Amor de Perdição”, de António Lopes Ribeiro (1943) estreia de Cármen Dolores.
                                               “Amor de Perdição”, de António Lopes Ribeiro (1943)
                          
                                       
                           Pano de Publicidade                                                              Exposição em 1938
 
 
                        
Lembro que Eça de Queirós , em “Os Maias“ coloca no Trindade o longo “sarau de beneficência” de onde saem, ao fim da noite João da Ega e o sr. Guimarães – e daí decorre, como sabemos, o desenlace do tragédia do incesto, com a revelação de cartas onde se demonstra que Maria Eduarda é irmã de Carlos da Maia. Aliás, já em “A Tragédia da Rua das Flores” Eça refere, e logo no inicio um espectáculo do Trindade, o que mostra a importância do teatro na época.
Foi longo o historial de empresários, actores e dramaturgos, que vão dos iniciais Francisco Palha e José Loureiro, a Sousa Bastos, Amélia Rey Colaço, Francisco Ribeiro (Ribeirinho) que ali dirigiu a companhia "Teatro Nacional Popular" e estreou entre nós Samuel Beckett com “À Espera de Godot”, ou Orlando Vitorino com o “Teatro d’Arte de Lisboa”, Couto Viana com a "Companhia Nacional de Teatro"… e actores como Palmira Bastos, Eduardo Brazão, Assis Pacheco, Álvaro Benamor, Cármen Dolores, Eunice Muñoz, Rui Mendes, Raul Solnado…
                                                                                      1956
                                            
                                       1957                                                                                          1961 
         
Em 1962, o "Teatro da Trindade" é adquirido pela "FNAT - Federação Nacional para a Alegria no Trabalho", hoje "Fundação INATEL". Para além de um notável restauro da sala, o Trindade assumiu-se num projecto global de teatro declamado, teatro de ópera com destaque para as sucessivas temporadas da "Companhia Portuguesa de Ópera", dirigida por Serra Formigal, mas que recentemente retomou a tradição e como teatro erudito e popular, numa acção de qualidade aberta também ao intercâmbio e acolhimento de companhias portuguesas e estrangeiras.
                       
 
fotos in: Arquivo Municipal de Lisboa, Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian, Hemeroteca Digital, Mário Marzagão Alfacinha, Cinema aos Copos, Instituto dos Museus e da Conservação, Biblioteca Nacional de Portugal
O actual dono, a "Fundação INATEL", não só tem mantido o edifício em actividade e sempre bem preservado, como ainda criou a Sala Estúdio, um Bar e o Salão Nobre.

2 de Julho de 2012

São Luiz - Teatro Municipal

Sob a iniciativa do actor Guilherme da Silveria constituiu-se uma sociedade para a edificação de um teatro, na antiga rua do Tesouro Velho hoje Rua António Maria Cardoso, em terrenos pertencentes à Casa de Bragança com a qual foi elaborado um contracto de cedência. O actor juntou-se com os capitalistas Visconde de São Luiz Braga regressado do Brasil e que ficaria como empresário deste Teatro, Celestino da Silva empresário brasileiro, Alfredo Miranda, Alfredo Waddington e António Ramos Miranda negociante do Rio de Janeiro, familiar de Ramalho Ortigão. O teatro chamar-se-ia "Theatro D. Amelia".
           
O "Theatro D. Amelia", projectado pelo arquitecto francês Louis-Ernest Reynaud, levou menos de um ano a ser construído e foi inaugurado dia 22 de Maio de 1894, data do 8º aniversário do casamento do rei D. Carlos com a Rainha D. Amélia tendo «a empreza, por tal motivo, resolver transferir a inauguração para esse dia, em primeira recita d'assignatura e com recita de gala».
            Primeira gravura (retirada da anterior) do "Theatro D. Amelia" publicada a 22 de Maio de 1894
                                   
A companhia Gargano estrearia com a opereta cómica de 3 actos e 4 quadros Filha do Tambor Mór de Offenbach. «A assignatura para as quinze primeiras recitas inauguraes excedeu toda a expectativa. A enchente de hoje será collossal. O espectaculo começa às 8 horas e meia da noite».
                                         Anúncio à peça Filha do Tambor Mór no "António Maria"
                                   
                                     Cartaz em 1904                                     Curiosidade de 1897
               
A entrada deste Teatro com iluminação a gás, era feita por uma escadaria de meia laranja. A asa direita dava ingresso à plateia e a esquerda sobre o Jardim de Inverno. O tamanho da sala de espectáculos era semelhante ao do Teatro Nacional de São Carlos. Contava com balcão, camarotes de 1ª ordem, 2º balcão, camarotes de 2ª ordem e galerias, contando também com um camarote real encimado pelas armas reais.
O foyer quase todo em branco e dourado, tinha as paredes cobertas por espelhos e painéis pintados pelos cenógrafos Claudio Rossi e Manini e decoração estilo Luís XV.
                          
                          
Em 1896 o "Theatro D. Amelia" é equipado com o Cinematographo: a Photographia Animada. Em 1898 torna-se residência da "Companhia Teatral Rosas & Brasão" e no ano seguinte é apresentada a comédia Lagartixa pela actriz Ângela Pinto.
Na primeira década passaram por este Teatro as seguintes companhias: opera lírica de Turpini; companhia italiana Gargano; opereta portuguesa de Cyriaco Cardoso; opereta italiana Rafael Tomba; companhia portuguesa Taveira; Dora lambertini; sociedade artística portuguesa de Lucinda Simões; companhia de variedades de Edna y Voed; companhia de opereta italiana de Bonazzo e Milzi; companhia portuguesa do Valle e Lucinda do Carmo; companhia dramática francesa de Burguet et Antoine entre outras. E os seguintes artistas: Maria Guerrero, Sarah Bernhardt, Jane Hading, Clara Della Guardia, Georgette Leblanc, os Coquelin, Anna Judic, Le Bargy, Leconte, Tina di Lorenzo, Antoine Kubelik, Loie Fuller, etc.
                                               Cartaz da 1ª quinzena de Novembro de 1899
                     
                                                         "Theatros" em Lisboa ano de 1900
                                  
                         Representação da peça "Chá das Cinco" no "Theatro D. Amelia" em 1909
                            
Em 1909 estreia-se a peça Os Postiços de Eduardo Schwalbach. Acerca deste autor Alvaro Lima no "Jornal dos Teatros", em 1917 escrevia:
«Seja, porém, como for, o que é facto é que Eduardo Schwalbach é, incontestavelmente, entre nós, o primeiro homem de teatro. O seu nome no cartaz é o melhor réclame que se faz à peça da sua autoria e nunca o público ou o crítico sofre uma desilusão. E não sofre porque tem, de antemão, a certeza de que a peça que vai ver tem, pelo menos, os seguintes requisitos: uma ideia que presidiu à sua confecção e que, em geral, sai da vulgaridade, como sucede no "Dia de Juízo", uma técnica impecável como a dos "Postiços", a graça genuinamente portuguesa da "Bisbilhoteira", uma sentimentalidade capaz de todos nós a sentirmos, como a do seu "Poema d’Amor", e finalmente o espírito educativo que preside a todas as suas obras»
Artigo na Ilustração Portuguesa de "Os Postiços" com fotos de Eduardo Schwalbach e do Visconde de S. Luiz
 
Em 1911 na sequência da revolução do 5 de Outubro de 1910, o "Theatro D. Amelia" muda de designação para "Theatro Republica". Não foi o único pois o Teatro Nacional D. Maria II  tambem mudaria a sua designação para "Teatro Nacional Almeida Garrett" O Jardim de Inverno do "Teatro da República" passa a animatógrafo com a designação "The Wonderful".
                Exterior do "Theatro Republica" em 1911            Programa para a época 1910-1911
              
                                                      
                  Sucesso popular no Theatro Republica com a revista De Capote e Lenço (1913)
                                      

«Em 13 de Setembro de 1914, grande incêndio no Teatro Republica, tendo comparecido 25 voluntários e 3 viaturas. Utilizaram-se 560 metros de mangueira  e fizeram-se  vários curativos no local do sinistro». Era nestes termos noticiada pelos Bombeiros Voluntários Lisbonenses, a trágica notícia do incêndio que consumiu totalmente o interior do Teatro.
  O combate ao incêndio pelos Bombeiros Voluntários Lisbonenses com a presença do actor Chaby Pinheiro
 
«Lisboa perdeu, com o Teatro Republica, a sua melhor, e mais moderna, mais chic casa de espectáculos, a que estavam ligadas as mais fundas recordações de horas inolvidáveis. Pelo Teatro Republica, agora um montão de escombros que a muita inteligência e o grande tacto administrativo do seu director convertera n'um verdadeiro capitólio de arte, passaram não só os maiores actores como as sumidades teatrais europeias. Ali trabalharam os Rosas, Brasão,Damasceno, e Lucilia, ali se apresentaram ao publico português a Duse, Zaconi, Noveli,Emmanuel, Tina di Lorenzo, a Vitaliani, Guiltry, Sara Bernhardt.» in: Ilustração Portuguesa
                                            O Teatro Republica na manhã seguinte ao incêndio
                                        
Dois anos depois, em 1916 a sociedade exploradora do Teatro com o Visconde S. Luiz de Braga, Celestino da Silva e António Ramos consegue a reabertura do "Teatro Republica" após a sua reconstrução com projecto do arquitecto Tertuliano Lacerda Marques. A peça de estreia foi Poema de Amor de Eduardo Schwalbach, na presença do então Presidente da República, Dr. Bernardino Machado. Teve igualmente lugar a conferência Ultimato Futurista por Almada Negreiros.
                                        Companhia do Teatro Republica "Braga & Cª." em 1916
                                 
Desta companhia a destacar as primeiras figuras: Lucinda Simões, Ângela Pinto, Emília de Oliveira, Chaby Pinheiro, Augusto Rosa e Eduardo Brazão. Este último possuiu a sua própria sala de teatro (foto seguinte)
                                                                 Teatro Eduardo Brazão
                                  
No ano seguinte em 1917, e depois de receber aulas de teatro por Augusto Rosa, estrear-se-ia no teatro a futura grande actriz Amélia Rey Colaço na peça "Marinela" de Benito Pérez Galdós. Para fazer a personagem, uma rude vagabunda, aprendeu, durante meses, a andar descalça e a usar farrapos, no interior do jardim do seu palacete. O êxito foi retumbante.
                                  Amélia Rey Colaço                           Acróstico Artístico de 1918
                  
Em princípios de 1974, Amélia Rey Colaço regressa ao S. Luiz, de onde partira. O ciclo fecha-se. Pouco depois dá-se o 25 de Abril e percebendo que a vão encarar como um símbolo do Estado Novo, suspende a "Companhia Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro" e sai de cena.
Com a morte do Visconde de São Luiz de Braga em 1918, o "Teatro da Republica" muda de nome definitivamente para "Teatro São Luiz".
Em 1928 o Teatro São Luiz é adaptado a cinema com decoração de Leitão de Barros, passando a designar-se "Cine-Teatro São Luiz". A 7 de Abril de 1928 é inaugurado com a estreia do filme mudo de Fritz Lang Metropolis, acompanhado por uma orquestra de 15 elementos dirigida pelo maestro Pedro Blanc, que escreveu a partitura. Em 1929 o  Jardim de Inverno serve de estúdio de cinema para o filme mudo Ver e Amar de Chianca de Garcia.
                                                      Diário de Lisboa 7 de Abril de 1928
               
                           
No ano de 1930 estreia-se o cinema sonoro com o filme Prémio de Beleza de Augusto Genina, com argumento de René Clair, tendo como protagonista Louise Brooks. Estreia em 17 de Junho de 1931 o primeiro filme sonoro («fonofilme») português: A Severa de Leitão de Barros. Este filme foi um enorme sucesso de bilheteira e esteve 6 meses em cena. Seguem-se as estreias de A Canção de Lisboa de Cotinelli Telmo em 1933, e em 1938 A Canção da Terra de Jorge Brum do canto. Em 1943 seria exibido nesta sala o filme "Costa do Castelo" de Arthur Duarte.  
                                                       Diário de Lisboa 17 de Junho de 1931
                                         
   Primeiro filme sonoro português "A Severa" de 1931                                     Folheto de 1932
   
                                                                                  1934                                
                                                   
Em 1971 torna-se Teatro Municipal com a designação "Teatro Municipal São Luiz". O espectáculo de estreia foi A Salvação do Mundo, uma peça de José Régio em três actos, com a actriz Eunice Muñoz.
          Sala do "Teatro Municipal de São Luiz em 1971                      Programa de "A Salvação do Mundo"
 
                              
É lançado em 1998  o concurso público internacional, para as obras de requalificação e conservação do "Teatro Municipal São Luiz", sob o programa do arquitecto Francisco Silva Dias e projectos de arquitectura da Divisão de Obras do Departamento de património Cultural da CML. Na sequência é adjudicada no ano seguinte, a empreitada “Teatro Municipal São Luiz – Obras de Reabilitação e Conservação” que recebe o apoio da União Europeia. No ano seguinte e no âmbito da 2ª fase da empreitada é lançado, a 29 de Junho, o concurso público Internacional para a obra de reabilitação e beneficiação da Sala Mário Viegas, Jardim de Inverno e Cafetaria com o projecto do Arqt.º José Romano.
      
                             
                             
Fotos in: Hemeroteca Digital, Biblioteca Nacional Digital, Instituto dos Museus e da Conservação, Ephemera, São Luiz

Em 2002 o "Teatro Municipal São Luiz" é cedido para a apresentação do music hall Amália, de Filipe La Féria. Novembro – Reabertura de todo o equipamento constituído por: Teatro São Luiz, Jardim de Inverno, Sala Mário Viegas e Café dos Teatros.